Bancos, consultorias e empresas especializadas em reestruturação de dívidas e gestão de grandes companhias não estão imunes à possibilidade de, ao tentar recuperar uma companhia em apuros, acabar engrossando a lista de devedores dela. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo com fontes de mercado, bancos e consultorias que atuam na reestruturação de negócios também estão levando calotes.
O mercado de reestruturação de dívidas não tem um tamanho desprezível. É disputado por empresas locais e estrangeiras. Segundo uma fonte do setor, considerado o “bolo” de R$ 120 bilhões das dívidas de recuperação judicial, o total de comissões a ser coletado pelas companhias de reestruturação giraria em torno de R$ 2 bilhões.
No jargão do mercado financeiro, o não pagamento é conhecido como “curva da ingratidão”. “Quando essas empresas nos procuram, obviamente a situação delas não é boa. Em alguns casos, quando parte dessas empresas começa a respirar mais aliviada, os gestores querem renegociar os valores acordados com a assessora financeira, e muitos deixam de cumprir com o pagamento para fazer pressão”, disse um gestor de uma dessas assessorias financeiras, que pediu anonimato.
Segundo apurou a reportagem, o grupo X, do empresário Eike Batista, deixou para trás um grande número de credores – incluindo algumas consultorias. A RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como Ricardo K., e a Alvarez & Marsal, estariam entre eles. Ricardo K atuou como presidente da OGX (hoje OGPar) e a Alvarez & Marsal assumiu, por um curto período, a OSX. As duas consultorias ainda teriam dinheiro a receber, segundo fontes, mas não quiseram comentar o assunto com a reportagem.
Diante do cenário adverso, bancos e consultorias se tornarammais seletivos na escolha de seus clientes. Alguns passaram a cobrar a chamada “engagement fee”, taxa paga no ato da assinatura do contrato com uma empresa em dificuldades financeiras. Em alguns casos, apurou a reportagem, o pagamento adiantado chega a um terço do valor total.
Tradicionalmente, no entanto, as empresas pagam à medida que o trabalho de reestruturação avança – a cobrança pode ser feita mensalmente ou por hora. Para evitar calotes, a reportagem apurou que pelo menos uma consultoria está lançando mão de um antigo instrumento para assinar novos contratos: o depósito caução.
O dinheiro relativo ao serviço é separado em uma conta, e a consultoria tem a permissão de ir retirando o valor aos poucos. “Foi preciso fazer alguma coisa, pois a inadimplência já estava chegando a 30%”, disse uma fonte.
Extrajudicial
Além das empresas em recuperação judicial, há vários exemplos de bancos e consultorias que estão reestruturando negócios em sérias dificuldades, mas que ainda não recorreram à recuperação judicial. A Oi contratou o banco Moelis e a RJT Partners, ambas americanas; a RK Partners já atua na Bombril; e a G5 Evercore ajuda a Máquina de Vendas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.