Os bancos públicos devem se reunir com os privados já nesta semana para discutir uma agenda de financiamento dos projetos de infraestrutura no País. Segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a orientação do governo Michel Temer é de que Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES somem forças com Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e estrangeiros para formatar um modelo de concessões pró-mercado, bem diferente do adotado na gestão de Dilma Rousseff.

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Eliminar as diferenças que afastavam os bancos públicos dos privados na questão dos financiamentos de longo prazo é fundamental, segundo fontes do mercado, uma vez que o Brasil não tem recursos para viabilizar os projetos de infraestrutura que inclui portos, aeroportos, rodovias, óleo e gás. O objetivo é permitir a adoção de um modelo mais próximo ao do chamado “project finance”, que se financia por si só, e menos de “corporate finance”, que acaba se restringindo ao limite de crédito da empresa.

“Os bancos precisam interagir para isso. Não há funding e precisamos de capital estrangeiro. O modelo anterior, de recursos do BNDES via Tesouro, expulsava os investidores de forma geral”, diz uma fonte de um grande banco.

Do lado privado, a cobrança é por melhora de garantias e até pela extensão de benefícios fiscais a títulos emitidos em moeda externa, como forma de garantir a participação do investidor estrangeiro. Executivos atentam ainda para a necessidade de flexibilizar a participação de empresas estrangeiras nos consórcios, uma vez que muitos competidores locais estão com restrição de crédito pelo envolvimento na Operação Lava Jato. A ideia, conforme uma fonte, já estaria na pauta do governo.

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Ainda lidando com problemas de financiamentos de projetos do segundo Programa de Investimento em Logística (PIL 2), os bancos privados exigem ajustes na modelagem que elevem a segurança dos projetos, como adequação das outorgas, da modicidade tarifária e das taxas de retorno (TIR) que devem ser definidas pelo mercado.

“Como vemos no mercado internacional, o ideal seria a inversão dos papéis, com o setor privado e o mercado de capitais na ponta do financiamento e o BNDES oferecendo garantias, uma vez que tem corpo técnico especializado para análise dos projetos”, propõe uma fonte. “Os bancos privados dificilmente terão apetite para o risco dos projetos nesse atual modelo, especialmente em um ambiente de restrição ao crédito”, acrescenta outro executivo.

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Seguro garantia

O BNDES, conforme a fonte de um banco estrangeiro, também poderia ser mais flexível em relação aos seus direitos nas garantias que são compartilhadas. Ele cita ainda a necessidade de o banco de fomento aceitar seguros garantias, que asseguram que a obra será concluída conforme previsto em contrato, e não apenas fianças bancárias para viabilizar os projetos de infraestrutura.

Hector Gomez Ang, gerente-geral para o Brasil do IFC, braço do Banco Mundial de investimento no setor privado, sugere que no curto prazo o financiamento estrangeiro, por meio de instrumentos de dívida ou fundos, fica ameaçado pela elevada taxa de juro doméstica. “Para atrair os recursos do mercado é preciso que haja um trabalho porque, com as taxas de juro elevadas, esse capital é muito caro”, atenta ele.