Banco Santos precisa R$ 700 mi para operar

O Banco Santos precisa de um aporte de pelo menos R$ 700 milhões em recursos para voltar a operar, segundo informações do diretor de fiscalização do Banco Central, Paulo Sérgio Cavalheiro. O banco sofreu intervenção do BC na noite de sexta-feira. É o primeiro caso de intervenção da autoridade monetária num banco privado desde 1998.

Cavalheiro explicou que a instituição fiscaliza quase que diariamente o sistema bancário. No caso do Banco Santos, o BC constatou que o recolhimento compulsório dos depósitos a prazo, que os bancos são obrigados a fazer, não estavam sendo realizados há vinte dias. Além disso, o banco não vinha provisionando corretamente recursos para se proteger de devedores duvidosos, o que provocou um rombo no patrimônio líquido do banco.

O diretor do BC explicou que em 31 de julho o patrimônio do Banco Santos era positivo em R$ 607 milhões. Com a aplicação das provisões, no valor de R$ 700 milhões, esse patrimônio ficou negativo em R$ 100 milhões.

O BC constatou irregularidades ainda no balanço financeiro, como a avaliação de operações derivativas acima do preço de mercado.

"Se é maquiagem ou não de balanço, será apurado durante a intervenção", afirmou Cavalheiro.

Segundo ele, os depósitos a prazo do Banco Santos somam cerca de R$ 1,8 bilhão. Com a intervenção, esses recursos ficam indisponíveis, ou seja, não podem ser sacados. O seguro bancário permite que cada cliente saque o valor máximo de R$ 20 mil.

Essa regra não vale para os fundos de investimentos. Vânio Aguiar, chefe de Supervisão Indireta do BC, nomeado o interventor no caso, terá de avaliar o valor dos ativos que compõem os fundos para decidir como pagar os cotistas. De acordo com Cavalheiro, a administração das cotas de fundos pode também ser transferida para outro gestor.

Pela lei, o processo de intervenção dura seis meses, podendo ser prorrogado, caso necessário, por mais seis meses. No entanto, Cavalheiro disse que a intervenção pode durar menos de seis meses se for encontrada uma solução para o banco.

O BC terá que apresentar um relatório sobre a situação da instituição em 60 dias.

Entre as hipóteses do que pode acontecer com o banco, o diretor do BC listou a liquidação financeira, decreto de falência, capitalização e reabertura, ou venda para outra instituição financeira. O dono do banco pode também decidir fechá-lo. Mas, para isso, precisaria pagar a dívida de R$ 100 milhões.

As operações do Banco Santos são basicamente de atacado, ou seja, voltadas para empresas.

A instituição tem cerca de 300 funcionários, que deverão ser mantidos no emprego. Para demitir ou contratar pessoas, o interventor terá que consultar o Banco Central.

A reabertura das agências depende de uma reavaliação do Banco Central.

Bens indisponíveis

Sediado em São Paulo, o Banco Santos é presidido por Edemar Cid Ferreira, cujos bens ficarão indisponíveis. O Banco Santos é, segundo levantamento do BC, o 21.º maior banco do País, com cerca de R$ 6 bilhões em ativos, R$ 1,8 bilhão em depósitos e 303 funcionários.

Além de Ferreira, os diretores do banco nos últimos 12 meses também terão seus bens indisponíveis.

Banco era o 6.º entre os maiores

O Banco Santos começou a operar como corretora em 1969, na cidade de Santos, litoral de São Paulo. A partir de 1994, passou a atuar como banco comercial, focando o segmento de middle-market, para médias empresas. Recentemente, entrou no mercado de varejo com produtos voltados para clientes com renda mensal acima de R$ 4 mi. Nessa operação, o banco investiu cerca de R$ 250 milhões.

No ano passado, registrou um lucro líquido de R$ 112 milhões, chegando à sexta posição entre os maiores bancos privados de capital nacional. Com R$ 6,1 bilhões em ativos, o banco também tinha planos para entrar no mercado internacional, como o chinês.

O dono do banco, Edemar Cid Ferreira, não escondia de ninguém que o objetivo era atuar ao lado dos grandes bancos brasileiros, como Bradesco, Unibanco e Itaú. Para isso, seguiu uma linha agressiva. O que acabou atraindo a atenção de várias instituições do mercado, especialmente das agências de classificação de risco (rating), que colocaram o banco em observação para rebaixar seu rating. As preocupação decorriam do fato de o capital das empresas estar muito baixo diante das realizações do banco. Mas a instituição acabou fazendo uma capitalização e a história foi encerrada.

Nos últimos meses, fez grandes contratações, tirando profissionais de peso até mesmo de instituições estrangeiras. No mercado, a fama do banco era de trazer especialistas pagando salários a peso de ouro.

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