Bancos públicos se expõem mais ao risco de calote que os concorrentes privados. Dados do Banco Central (BC) mostram que 71,3% dos empréstimos para as pessoas físicas feitos pelas instituições controladas pelo governo têm risco que equivale a, pelo menos, atrasos de 15 dias nos pagamentos.

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Enquanto isso, os bancos privados optam por concentrar operações nos bons pagadores e só 27,6% dos financiamentos têm o risco mencionado. A pressão do governo para o aumento da oferta de crédito em meio à crise e a ação em nichos de menor renda explica a maior exposição dos bancos públicos, dizem analistas.

No setor bancário, cada empréstimo é classificado com notas para determinar o risco de calote. Pelas regras do BC, a avaliação varia entre AA e H e leva em conta critérios como o grau de endividamento, limite de crédito, qualidade das garantias, valor do financiamento, renda e patrimônio do cliente. Isso, por exemplo, determina se um empréstimo recebe AA – a melhor nota – ou C na concessão do crédito.

Independentemente da avaliação, bancos são obrigados a incluir todos os empréstimos com atraso de 15 dias na nota B. A falta de pontualidade no pagamento superior a um mês passa a receber C e, quando o atraso no pagamento passa de mais de 90 dias, cai para E. Dessa forma, o ideal é que instituições optem pelos empréstimos com as melhores notas, aqueles feitos por bons pagadores: clientes com boas condições de pagamento, histórico de crédito e garantias. Mas não é necessariamente isso que ocorre nos bancos públicos.

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Em novembro, a exposição ao risco nas operações entre B e H concentrou quase três quartos dos empréstimos às pessoas físicas feitas pelas instituições controladas pelo governo. Portanto, só um quarto tinha nota AA e A. Enquanto isso, a proporção nos bancos privados com capital nacional era exatamente a contrária: quase três quartos dos empréstimos tinham as duas melhores notas e apenas um quarto as piores avaliações.

BB e Caixa

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Os dois maiores bancos públicos do Brasil rebatem a avaliação de que realizar operações de maior risco implique em levar mais calotes à carteira de crédito. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal argumentam que não há relação direta entre os dois temas e que ambos têm indicadores de inadimplência mais baixos que a média do mercado.

A assessoria de imprensa do BB argumenta que, no crédito à pessoa física com recursos livres, por exemplo, a inadimplência (conceito que agrega atrasos superiores a 90 dias) da instituição era de 5,8% em setembro, ante taxa de 7,3% na média do mercado. Além disso, a instituição lembra que uma das classificações feitas pelo Banco Central para as operações de crédito avalia como “risco normal” as transações com notas entre AA e C. Por isso, não há qualquer impedimento ou problema em se ter operações com notas abaixo de A.

Já a Caixa argumenta que os empréstimos para pessoa física com nota AA e A correspondem a 50% da sua carteira. A instituição afirma também, sem dar números, que sua inadimplência é inferior à média do mercado. “Portanto, é perfeitamente possível um banco realizar operações com clientes cujos ratings sejam baixos, mas, devido a seus sistemas de relacionamento com tais clientes, obter níveis de inadimplência reduzidos”, diz a Caixa em nota.