Motores do crescimento do crédito no Brasil em 2009 e na maior parte de 2010, os bancos públicos neste ano apresentam desempenho mais moderado, próximo do mercado. De acordo com dados do Banco Central, no primeiro quadrimestre do ano o conjunto das instituições financeiras estatais registrou expansão de 4,2%, enquanto os bancos privados nacionais cresceram a 4,4%. O alinhamento dos dois principais grupos do sistema financeiro também é ainda mais claro nos dados em 12 meses terminados em abril: 22% de alta.

continua após a publicidade

O nível em 12 meses ainda é elevado, diante do que quer o BC (que pretende ver o crédito total crescendo de 10% a 15% este ano), mas a avaliação é de que há uma gordura ainda relativa ao ano passado. O cenário das próprias instituições públicas é de um ritmo mais comedido este ano.

A desaceleração dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as ações de política econômica que vêm sendo adotadas pelo governo desde o fim de 2010, como as medidas de aperto no crédito e a alta dos juros, são os fatores apontados como determinantes para este menor dinamismo nos financiamentos dos bancos públicos.

De acordo com o BC, o estoque de crédito direcionado do BNDES cresceu 1,8% de janeiro a abril – uma taxa anualizada inferior a 10%. Em 2010, o crédito da instituição registrou crescimento de 25,6% sobre 2009. O banco reconhece o menor ímpeto de desembolsos e diz que isso reflete fatores como o aumento nos custos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado na crise, e também por uma decisão de diminuir a participação do BNDES em empréstimos de longo prazo, de modo a estimular o desenvolvimento do mercado privado.

continua após a publicidade

Em 2010, o banco chegou a ter participação de 100% em alguns projetos e agora a decisão é de não passar de 90% – e isso em casos excepcionais. A média de participação do banco em tais projetos prevista para 2011 é de 70%. A retirada do pé no acelerador promovida pelo BNDES, atende um desejo do BC. O Comitê de Política Monetária (Copom) já disse que seriam oportunas iniciativas de moderar concessões de subsídios ao crédito, numa referência clara ao BNDES.

O vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Marcio Percival, afirma que há uma forte tendência de desaceleração do crédito nos bancos públicos e de alinhamento desse grupo com os bancos privados. Segundo ele, as operações de pessoa física, que foram alvo das medidas macroprudenciais, é que estão puxando essa desaceleração na Caixa Econômica, embora também haja um menor fôlego nas de pessoa jurídica: “Há uma acomodação do crédito, refletindo nível de atividade econômica mais moderado”.

continua após a publicidade

O executivo explica que, a despeito de o banco trabalhar com taxa de expansão de 30% para o crédito neste ano, o movimento deve ser puxado pelos financiamentos imobiliários, que representam 62% da carteira da instituição. Segundo ele, esse segmento acumula em 12 meses alta de 39,5%, enquanto as operações normais com pessoa física e jurídica estão pouco acima de 20%. Ao longo do ano, Percival prevê que o crédito imobiliário se aproxime de uma taxa de 30% de crescimento e as operações com pessoa física e jurídica fiquem abaixo de 20%, pouco melhor que a média do mercado. “A Caixa está desacelerando o crédito, mas ganhando participação de mercado”, diz.

Percival salienta que a estratégia do governo de subir juros e adotar medidas macroprudenciais, ao mesmo tempo que desonerou fontes de financiamento de longo prazo, como letras financeiras e debêntures, está provocando uma migração dos bancos públicos para operações mais longas e voltadas para o investimento. “O crédito nas instituições públicas está desacelerando e mudando de perfil, alinhando-se com os rumos da política econômica”, afirma.

O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, considera positivo os bancos públicos estarem crescendo em um ritmo próximo ao do setor privado. “Não há mais um foco de aquecimento no crédito por parte dos bancos públicos”, diz. “Os bancos públicos crescerem em ritmo semelhante aos privados mostra preocupação do governo com a inflação. É possível ver maior sintonia dos bancos públicos com a política econômica. Mantido esse comportamento convergente, pode-se dizer que crédito pode dar colaboração para evitar maior aquecimento da economia”, acrescenta.

Ele afirmou ainda que, tanto instituições públicas como privadas, estão de maneira geral ficando mais seletivas na concessão de crédito, diante da combinação de inflação e juros mais altos. “Há um freio no humor dos banqueiros para conceder crédito por temor de calote”, explica.