Brasília
– O esforço do governo para retomar as linhas de crédito ao Brasil não se limita às conversas que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, tiveram com investidores na Europa. O Banco do Brasil vem desenvolvendo um trabalho de bastidor que já começou a render frutos.Ontem, a instituição conseguiu captar US$ 40 milhões no mercado norte-americano por um prazo de sete anos com uma estratégia inovadora de negociar individualmente com os investidores. Além disso, no banco conseguiu mais US$ 75 milhões de bancos europeus. Todo dinheiro será destinado ao comércio externo.
“Após cada uma dessas operações, os investidores vão ficando mais confiantes”, comemorou Osanan Barros, diretor da área internacional.
“Falta pouco para recuperar as linhas perdidas”, completou. Segundo ele, com a crise de confiança que abalou o mercado brasileiro, o BB perdeu cerca de 20% do estoque de linhas comerciais que tinha no início do ano. Mas, nas últimas semanas, pelos menos 80% já foram recuperadas.
A primeira oferta de recursos para o BB veio há cerca de duas semanas, no mesmo dia em que Malan e Fraga estavam reunidos com banqueiros em Nova York para tentar restabelecer o fluxo de linhas para o Brasil. A partir daí, os próprios diretores e gerentes do BB nas agências no exterior se empenharam num corpo a corpo para convencer bancos e investidores a emprestar dinheiro ao Brasil.
Na semana passada, o presidente do BB, Eduardo Guimarães esteve com alguns diretores em Portugal e na Espanha. A direção da instituição também manteve contato com investidores alemães, num encontro em São Paulo. Os primeiros resultados das conversas começaram a ser anunciados hoje.
Seleção prévia
“Diante dessa pressão de mercado, estamos com uma estratégia diferente”, destacou Barros. Com essa estratégia, em vez de fazer uma oferta para várias instituições ao mesmo tempo, o BB está atuando individualmente, com investidores selecionados previamente. “Dessa forma, é possível captar com custos menores”, avalia Barros. Como algumas conversas ainda estão em andamento, é possível que o BB anuncie novas captações nas próximas semanas.
Os US$ 40 milhões captados no Estados Unidos ontem foram de um único investidor. O prazo da operação é de sete anos, com carência de dois anos para iniciar o pagamento do principal. “O custo de captação ainda está acima do verificado no início do ano mas está compatível com o momento que vivemos”, afirmou o diretor.
A operação, lastreada nas remessas que o banco recebe dos Estados Unidos, obteve praticamente as mesmas condições da captação de US$ 450 milhões feita pelo BB no final do ano passado. Os papéis vão render aos compradores 7,89% ao ano.
Já a operação no mercado europeu é de prazo mais curto e envolveu cinco bancos. “Foi uma operação no mercado interbancário de comércio exterior, justamente o segmento que mais vinha sofrendo com essa crise”, destacou o diretor. O prazo nesse tipo de operação varia entre 180 e 360 dias e o custo médio foi de 2,4% ao ano.