Nem poderia ser diferente. Se bancos privados (e inclusive estatais, como o Banco do Brasil) tiveram lucros estratosféricos no primeiro ano do governo Lula, o Banco Central não poderia ficar de fora. O BC registrou no ano passado um lucro recorde de R$ 31,318 bilhões. Segundo o diretor de Administração, João Antônio Fleury Teixeira, trata-se do maior ganho obtido pelo banco desde pelo menos o início do Plano Real, em 1994. O resultado volumoso deve-se, em parte, à reversão do prejuízo obtido em 2002, de R$ 17,173 bilhões.

O resultado do BC é bastante influenciado pela cotação dos títulos públicos que carrega em sua carteira. Esses papéis tiveram forte desvalorização em 2002, quando o Brasil atravessou uma crise financeira, mas voltaram a ser considerados atrativos no ano passado.

O banco ganhou R$ 16,288 bilhões com a valorização dos títulos públicos que possui em carteira e outros R$ 7,234 bilhões pagos pelo governo em juros dos papéis.

Além disso, apenas os contratos de “swap cambial” (cuja remuneração aos investidores é definida pelas variações do dólar e dos juros) deram um ganho de R$ 18,579 bilhões ao BC em 2003. O lucro é explicado pela desvalorização do dólar no período, que fez o BC resgatar por um preço menor os contratos vendidos anteriormente.

Por outro lado, o BC perdeu R$ 9,714 bilhões em 2003 com a valorização de 18,23% do real em relação a moedas estrangeiras. Esse prejuízo deve-se ao fato de que o BC tem em moedas estrangeiras mais ativos do que passivos.

Repasse

Do lucro de R$ 31,318 bilhões obtido no ano passado, o BC só deixará de repassar ao Tesouro Nacional R$ 1,784 bilhão que será incorporado ao seu patrimônio líquido.

Os demais recursos ficarão com o Tesouro, que, por lei, terá de utilizá-los para reduzir a dívida pública do governo federal.

Proer

O BC também reduziu no ano passado as provisões (espécie de colchão para cobrir perdas com empréstimos de difícil recebimento) de recursos repassados a instituições financeiras em processo de liquidação no âmbito do Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional).

Ao final de 2002, o banco tinha R$ 27,880 bilhões em créditos para essas instituições, sendo que R$ 8,969 bilhões estavam provisionados. O BC fechou o ano passado com R$ 23,042 bilhões em empréstimos e R$ 6,586 bilhões provisionados.

O Proer previa a capitalização pelo BC de bancos em difícil situação financeira para evitar o chamado “risco sistêmico” (a quebra de um banco levaria a uma corrida de saques e acabaria resultando na falência de outras instituições).

O BC assumia essas instituições e ficava responsável pelo recebimento dos empréstimos que haviam sido realizados. O pagamento desses créditos serve para atenuar o prejuízo do BC com a anterior injeção de recursos.

Até o Besc saiu do prejuízo

Até o Besc (Banco do Estado de Santa Catarina), que está para ser privatizado e que acumulava prejuízo atrás de prejuízo, encerrou 2003 com lucro líquido de R$ 10,644 milhões, após ter registrado prejuízo de quase R$ 1 bilhão em 2002.

Incluindo as demais empresas do conglomerado, o lucro do Besc sobe para R$ 25,344 milhões. A financeira Bescred, a empresa de crédito mobiliário Bescri e a distribuidora de títulos e valores mobiliário do Besc tiveram, juntas, lucro de R$ 14,7 milhões.

O banco de Santa Catarina está na lista de privatizações do governo federal, assim como o BEC (Banco do Estado do Ceará) e o BEP (Banco do Estado do Piauí). No início de fevereiro, foi realizado o primeiro leilão de privatização do governo Lula, com a venda do BEM (Banco do Estado do Maranhão), comprado pelo Bradesco, por R$ 78 milhões.

O Besc chegou a registrar prejuízo de R$ 12,3 milhões no primeiro semestre do ano passado e a projeção do banco era de fechar 2003 com perdas de R$ 34 milhões.

O presidente da instituição, Eurides Luiz Mescolotto, disse que dois fatores foram determinantes para a melhora do desempenho no ano. Um deles foi a venda de imóveis do banco para o governo do Estado de Santa Catarina, que gerou ganhos de R$ 22,117 milhões.

O outro foi o aumento nas captações de poupança e fundos do conglomerado, que totalizaram R$ 4,105 bilhões ao final de 2003, uma expansão de 25,2% em relação ao ano anterior.

Mescolotto disse também que houve uma redução nas despesas com folha de pagamento, já que o total de funcionários diminuiu de 4.882 para 2.879 entre 2001 e 2003. As despesas com pessoal totalizaram R$ 256 milhões no ano passado, uma queda de 58% em relação a 2002.

Segundo o executivo, o banco concentra a folha de pagamento de servidores do governo do Estado e de prefeituras do municípios de Santa Catarina e seu foco é a concessão de crédito consignado.

Superávit da balança vai ser maior

O Banco Central elevou a previsão de superávit da balança comercial para este ano de US$ 19 bilhões para US$ 20 bilhões. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que a revisão foi feita devido ao saldo obtido pela balança em janeiro, de US$ 1,588 bilhão. Além de ser maior do que o de janeiro do ano passado (US$ 1,155 bilhão), o resultado também superou as expectativas do BC.

Altamir também prevê que as empresas brasileiras tragam mais dinheiro do exterior por meio de empréstimos. A taxa de rolagem (diferença entre emissão e resgate de papéis) deve alcançar 110% neste ano, contra 100% previsto até o mês passado.

O BC justificou a revisão com os resultados acima das expectativas obtidos no início deste ano. Em janeiro, a taxa de rolagem foi de 234%. Nos primeiros 16 dias de fevereiro, essa taxa subiu ainda mais, para 271%.

Questionado se as empresas estavam se antecipando ao provável aumento de juros nos Estados Unidos, Altamir disse que não haverá problemas para as empresas financiarem suas dívidas neste ano “a despeito de qualquer eventualidade”.

Os resultados da balança comercial, das rolagens das empresas e da captação de US$ 1,5 bilhão realizada pelo BC em janeiro fizeram com que o balanço de pagamentos (saldo entre o dinheiro que entra e sai do País) tivesse superávit de US$ 4,2 bilhões.

Gastos de turistas

Os gastos dos turistas estrangeiros no Brasil superaram os de brasileiros no exterior em US$ 100 milhões em janeiro. Segundo Altamir Lopes, trata-se do melhor resultado desde o início da série histórica da pesquisa, em 1969. Em fevereiro, o resultado deve ser novamente positivo. Nos 16 primeiros dias de fevereiro, o saldo de gastos dos turistas estrangeiros ficou em US$ 67 milhões.

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