O Copom (Comitê de Política Monetária) tem como função controlar a inflação e não pode ceder a pressões -de integrantes do governo ou do setor privado, como a indústria – para a reduzir as taxas de juros. A opinião é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. “Não pode haver açodamento na prática da política monetária e essa prática é exclusividade do Copom”, disse Meirelles em resposta a uma pergunta sobre a possibilidade de o governo estar pressionando o BC para intensificar o corte nos juros.
“O arcabouço da política monetária é o regime de metas de inflação. Não temos, nem poderíamos ter metas para a taxa de juros, seja real ou nominal”, afirmou o presidente do BC em discurso a economistas, em São Paulo.
“Estamos conscientes de que a manutenção da estabilidade macroeconômica depende de não nos precipitarmos no processo de flexibilização da política monetária.”
Na semana passada, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse que a taxa de juros deverá cair de novo neste mês, na próxima reunião do Copom, nos dias 16 e 17.
Dirceu também afirmou que é preciso fazer esforços para atingir um “juro real civilizado”, e que as condições atuais permitiriam um juro real -que desconta a inflação -de 6% a 8%. “O próprio presidente Lula já esclareceu, por meio de nota, que essa é uma responsabilidade (a queda de juros) exclusiva do Copom”, disse o presidente do Banco Central.
Atualmente, a taxa Selic está em 17,5% ao ano. A projeção do mercado é que seja anunciado um corte entre 1 ponto e 1,5 ponto percentuais na reunião da próxima semana.
Essa aposta se intensificou depois de o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ter divulgado, ontem, que que houve uma retração de 0,5% na produção industrial de outubro.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) chegou a divulgar uma nota informando que, diante deste resultado, o melhor seria o Copom anunciar um corte de até 2 pontos percentuais – para 15,5% ao ano. “Temos a plena convicção de que a queda dos juros reais é compatível com a sustentação da recuperação da atividade econômica”, disse Meirelles.
Recuperação da confiança
Meirelles abriu ontem um seminário, organizado pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), em São Paulo, para discutir as perspectivas para a economia para 2004.
O presidente do BC, em seu discurso, destacou o fato de o governo Lula ter conseguido “debelar a ameaça de aceleração inflacionária e a crise de confiança” em menos de 12 meses de mandato.
“A obtenção de taxas sustentáveis de crescimento depende de continuarmos a consolidar o que já estamos conquistando. Não há atalhos nesse processo. Nossa experiência e a de outros países mostram que o custo do açodamento na condução da política monetária costuma ser elevado.”
Segundo Meirelles, as perspectivas para o próximo ano são melhores que as que o governo tinha no início de 2003 e essa recuperação da confiança foi possível graças ao ajuste da política fiscal do âmbito doméstico e externo. “É o sucesso dessas políticas que permite vislumbrarmos um futuro melhor em 2004.”
A determinação de manter uma estabilidade macroeconômica foi o que possibilitou esse resultado, segundo Meirelles, e é o que dará condições para que o país “cresça de forma sustentada” nos próximo anos.
“Os fundamentos da economia brasileira são hoje muito mais sólidos do que eram meses atrás. Há muitos anos o País não reunia condições tão favoráveis para sustentar um processo consistente de crescimento sem gerar desequilíbrios nas contas externas ou pressões inflacionárias”, disse o presidente do BC.
Salários vão se recuperar em 2004
O Brasil está entrando em uma nova fase de crescimento acelerado, disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal inglês “Financial Times”. O presidente do BC disse ainda que espera uma recuperação na renda. “A dúvida não é se o Brasil vai crescer em torno de 3,5% em 2004 e 2005 – ele vai”, disse Meirelles. “A questão é se o país pode crescer a taxas mais elevadas nos anos seguintes.”
Na entrevista, que seria publicada ontem, o presidente do BC afirma que o país tem hoje melhores condições para sustentar o crescimento. Meirelles cita a reforma fiscal e a previdenciária. Mas Meirelles, de acordo com o “FT”, reconheceu que a habilidade do governo em criar um ambiente favorável ao investimento privado será ?muito importante? para o crescimento econômico nos próximos anos.
O presidente do BC também reconheceu que as vendas do comércio estão fracas, mas disse que a demanda vai se recuperar gradualmente, com a queda nos juros e a recuperação na renda. Disse ainda que existe um compromisso para que a carga tributária não seja elevada.
Orgulho de Palocci
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse anteontem que sente orgulho da política econômica conduzida pelo ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda). “Vejo que Palocci adota a mesma agenda que o meu governo defendia. Não falo isso com ironia, mas com orgulho. Orgulho não por minha causa, mas por causa dos progressos que a economia brasileira tem feito.”
A declaração foi feita em Nova York, durante a palestra de FHC no seminário “Brasil: agenda do crescimento”. O evento foi organizado pelo banco Pactual. Fernando Henrique Cardoso elogiou ainda a “maturidade política” da administração Lula e disse acreditar no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2004.
Não quis, porém, arriscar um valor. “Não gosto de previsões. Sempre tive medo de economistas”, brincou.
