O Banco Central deu indicações que será menos ousado em relação à política monetária e que a taxa básica de juros da economia brasileira – a Selic – já está próxima da estabilidade após os quatro cortes promovidos nos últimos quatro meses. De acordo com a ata da última reunião do Copom, divulgada ontem, a redução da Selic de 26,5% para 20% ao ano entre junho e setembro colocou os juros “próximos” daqueles que deverão vigorar nos próximos meses.

“Dadas as sucessivas reduções na taxa Selic a partir de junho, a taxa de juros real (Selic menos inflação medida pelo IPCA) tende a aproximar-se da taxa que deverá vigorar em médio prazo, quando a economia estiver em uma trajetória de crescimento sustentado com estabilidade de preços”, diz a ata.

Além disso, na ata fica claro que, a partir das próximas reuniões, o Copom deverá ser muito menos ousado do que em agosto e setembro, quando os juros foram reduzidos em 2,5 pontos percentuais e 2 pontos percentuais, respectivamente.

“À medida que essa convergência segue seu curso, adquirem maior peso relativo os riscos associados às incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária, particularmente no tocante às defasagens e magnitudes do impacto de alterações da taxa Selic sobre a inflação. Com essa mudança progressiva no peso relativo dos riscos, o gradualismo na condução da política monetária torna-se cada vez mais importante”, completa.

O Copom explica essa mudança “no peso relativo dos riscos” com a melhoria da economia. A avaliação é de que haverá um reaquecimento nos próximos meses devido à queda dos juros e a outras medidas tomadas pelo governo e que movimentos muito bruscos nos juros passariam a partir de agora a representar riscos maiores de retorno da inflação.

“O Copom acompanhará atentamente a evolução da demanda agregada, para que o aumento do grau de utilização da capacidade instalada (nas indústrias) se dê em velocidade compatível com a maturação de novos investimentos”, diz o BC na ata.

Isso evitaria que o crescimento da economia gerasse uma demanda por produtos maior do que a oferta, o que inevitavelmente acaba por gerar inflação.

Inflação

O Copom espera um pequeno aumento da inflação nos próximos meses. A expectativa é decorrente do “impacto da entressafra e dos reajustes previstos para os preços administrados” e consta da ata da reunião, divulgada ontem pelo BC. No entanto, no médio prazo, “o Copom avalia que a inflação deverá retornar aos níveis mais moderados observados recentemente”.

De acordo com a ata, para que a estabilidade de preços possa se manter em um horizonte mais longo, o crescimento da demanda agregada, que deverá vir com a recuperação da atividade econômica, deve continuar sendo compatível com as condições de oferta.

“O Copom acompanhará atentamente a evolução da demanda agregada para que o aumento do grau de utilização da capacidade instalada se dê em velocidade compatível com a maturação de novos investimentos”, diz a ata.

O Copom também avaliou que alguns riscos envolvidos nas projeções para a trajetória futura da inflação “têm se tornado menos significativos”. Esse é o caso, de acordo com a ata da reunião, das dúvidas com relação ao aumento do grau de inércia da inflação após o repique inflacionário ocorrido no último trimestre de 2002.

Apesar disso, a ata destaca que, no último trimestre deste ano, ocorrerão importantes dissídios coletivos. “Nesse caso, será importante observar as diferenças entre os reajustes salariais associados a setores que tiveram ganho de preços relativos desde o ano passado, notadamente os setores produtores de bens comercializáveis que se beneficiaram da depreciação cambial, e os reajustes que se baseiam na inflação passada, independentemente do desempenho setorial ocorrido e previsto”, diz a ata.

Combustíveis vão subir menos

O reajuste acumulado do preço da gasolina em 2003 deve chegar a 2,2%. Essa é a última previsão feita pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que é 2,7 pontos percentuais menor que os 4,9% projetados na reunião do mês de agosto. De acordo com a ata do Copom, divulgada ontem pelo BC, essa diminuição é decorrente da “apreciação cambial ocorrida no último mês e da queda da cotação internacional do produto (o petróleo)”.

A reunião do Copom, no entanto, foi realizada na semana passada, nos dias 16 e 17, antes da recente alta do preço internacional do petróleo, o que pode levar a novas elevações de projeção no próximo mês.

Para o gás de botijão, como o aumento previsto para agosto foi menor que o esperado, de acordo com a ata, as projeções de reajuste para este ano foram reduzidas de 5,8% para 5,4%.

Com relação às tarifas de energia elétrica residencial, o Copom também reduziu a previsão de alta neste ano de 22,3% para 20,8%. Em compensação, as projeções para o reajuste das tarifas de telefonia fixa em 2003 subiram 0,2 ponto percentual, passando de 25,5% para 25,7%.

“Em função de liminar contra o reajuste das tarifas telefônicas, houve alteração das datas previstas para os reajustes. O Copom supôs, no entanto, que a diferença entre o reajuste projetado e o ocorrido nos últimos meses deverá ser compensada até o final de 2003”, diz a ata.

Apesar das revisões com relação aos reajustes de alguns preços administrados por contrato e monitorados (tarifas públicas e preços monitorados, como a gasolina), o Copom manteve a previsão de alta de 14% para o conjunto dos preços administrados em 2003. Para 2004, no entanto, o Copom reduziu a projeção de alta dos preços administrados de 8,7% para 8,3%.

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