Banco Central acena com manutenção dos juros

A taxa básica de juros da economia, a Selic, deverá ficar no patamar atual de 19,75% ao ano por um longo período de tempo, segundo indicou o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) na ata de sua última reunião, divulgada ontem.

?O comitê avaliou que a perspectiva de manutenção da taxa de juros básica por um período suficientemente longo de tempo no nível estabelecido em sua reunião de maio já seria capaz de proporcionar condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, não havendo, portanto, necessidade de prosseguir com o processo de ajuste iniciado na reunião de setembro de 2004?, diz a ata.

Entre setembro e maio, a taxa de juros passou por nove elevações e chegou a 19,75% ao ano. Na reunião de junho, realizada na semana passada, o Copom optou pela manutenção da taxa.

De acordo com o documento, o processo de aumento de juros já surtiu efeito e houve uma redução dos focos de pressão inflacionária. Em maio, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE) deu forte sinais de desaceleração, quando ficou em 0,49%, contra 0,87% no mês anterior.

O BC trabalha com o objetivo de que a inflação no ano, medida pelo IPCA, fique em 5,1%. A meta era de 4,5%, mas foi ajustada em setembro do ano passado. No entanto, a margem de tolerância foi mantida em 2,5 pontos percentuais. Por isso, a inflação pode chegar a até 7% neste ano. Além da menor pressão sobre os preços, o comitê vê que o ritmo de expansão da economia está mais condizente com a oferta e que diminuíram os focos de inflação.

?A atividade econômica deverá continuar em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação. Além disso, o Copom avalia que houve uma redução na persistência de focos localizados de pressão na inflação corrente a uma melhora do cenário externo, não obstante a elevação recente dos preços internacionais de petróleo.?

No ano passado, a economia teve um crescimento de 4,9%. No primeiro trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,3%.

A previsão de inflação do mercado caiu de 6,4%, no levantamento feito antes da reunião de maio, para 6,2% na pesquisa divulgada na semana passada. Para o BC, isso indica que as expectativas dos agentes de mercado começam a ser sensibilizadas por fatores como a acomodação do ritmo de crescimento da economia e a postura restritiva da política monetária.

Apesar de ver um cenário que contribui para a convergência das expectativas de inflação para a meta, o Copom reafirma que ficará atento a eventuais riscos que possam ameaçar o objetivo.

?Evidentemente, na eventualidade de se verificar uma exacerbação de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a inflação neste momento pelo comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias?, alerta a ata.

Empresários criticam a alta

Para o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, ao manter os juros que decide pagar em patamares tão elevados, o governo incentiva uma ciranda perigosa para o País. ?Se juro alto fosse o remédio para conter o aumento de preços, a inflação brasileira teria desaparecido há anos. Insistir nesta visão míope é continuar a provocar o crescimento da dívida pública sem que haja a necessária contrapartida do Estado em investimentos para a melhoria da infra-estrutura nacional e dos serviços prestados à população?, afirmou.

Rocha Loures defende um movimento para derrubar o modelo econômico adotado pelo governo federal, que só contempla o setor financeiro. ?Juros exorbitantes, tributação elevada e moeda nacional sobre-valorizada apenas configuram o prolongamento de uma anomalia: a de uma nação que vive para pagar juros?, afirmou.

O presidente do Sistema Fecomércio (Federação do Comércio no Paraná), Darci Piana, também criticou a decisão divulgada ontem em ata. ?A gente esperava que houvesse uma queda, nem que fosse de 0,25%, para o próximo mês. Como isso não deve ocorrer, nossa preocupação é que haja uma queda ainda maior nas vendas do comércio?, avaliou. Piana acrescentou que ao contrário de outros setores, como o da indústria, o comércio depende muito de políticas de curto prazo. ?Essa queda de 3% a 4% do comércio não se deve apenas ao agronegócio, mas também à manutenção dos juros altos?, arrematou. (Lyrian Saiki)

Reajuste zero para gasolina

O Banco Central decidiu manter as previsões para os reajustes dos combustíveis e tarifas de energia elétrica e telefonia fixa para este ano. Segundo a ata do Copom, os preços da gasolina e do gás de botijão não devem subir em 2005 mesmo com a recente alta do preço do petróleo, cujo barril negociado em Nova York chegou bem próximo dos US$ 60 nesta semana.

Sobre as tarifas de energia, a previsão de reajuste foi mantida em 10,8%. A expectativa de aumento das tarifas de telefonia também permanece inalterada (8,6%).

Para o conjunto de preços administrados por contrato ou monitorados, o BC projeta um aumento de 7,3% neste ano – mesma previsão do mês passado.

Sobre a desaceleração do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que passou de 0,87% em abril para 0,49% em maio, o BC diz que isso foi possível pela queda nos preços nos combustíveis e da menor variação dos preços monitorados. Além disso, a inflação menor ocorreu mesmo com a aceleração dos preços do vestuário.

?Apesar de pressões inflacionárias oriundas de tarifas de energia elétrica, o conjunto dos monitorados registrou baixo incremento, em decorrência da queda nos preços dos combustíveis?, avalia a ata.

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