O diretor de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, reforçou durante seminário The Economist – Brazil Business Summit, na França, que o objetivo da política monetária é evitar a transmissão do atual ajuste de preços da economia para o ano que vem, quando promete entregar o IPCA na meta de 4,5%. Segundo o diretor, o Brasil está passando por um “necessário e clássico” processo de ajuste este ano, com aperto das políticas fiscal e monetária e realinhamento relativo de preços (administrados com livres e domésticos com internacionais).
De acordo com a apresentação do diretor, os ajustes de preços relativos impactaram a inflação no primeiro trimestre deste ano e elevaram também a taxa acumulada em 12 meses, que está alta já na metade do ano. Foram os responsáveis ainda pelo aumento das expectativas dos agentes econômicos para a inflação deste ano.
“O objetivo da política monetária é evitar que esse processo de ajuste relativo de preço em 2015 seja transmitido para 2016 e além”, destacou. Segundo ele, a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem desses efeitos e circunscrevê-los a 2015. “Por essa razão, a política monetária está e continuará vigilante para garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5% no fim de 2016.”
Na avaliação de Awazu, o Comitê de Política Monetária (Copom) reiterou a necessidade de “determinação” e “perseverança” no combate à inflação. Mais uma vez, um porta-voz da autoridade monetária se valeu dessas duas expressões que passaram a fazer parte da comunicação do Banco Central desde a participação do presidente Alexandre Tombini, em maio, em audiência pública no Congresso. Na última decisão do colegiado, a diretoria do BC optou por manter o ritmo de alta dos juros em 0,50 ponto porcentual. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano.
Além disso, lembrou Awazu, o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduziu no final do mês passado a banda de tolerância para a meta de inflação de 2017, de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo, para 1,5 ponto porcentual. O centro da meta foi mantido em 4,5%. Isso, conforme o diretor é mais uma reafirmação do compromisso da instituição de levar a inflação para seu objetivo.
Awazu afirmou ainda que a melhor contribuição da política monetária para um novo e virtuoso ciclo de crescimento é levar o IPCA à meta de 4,5% no fim de 2016 e ancorar as expectativas para a inflação.
O BC vem travando uma dura batalha com as expectativas. Tem conseguido algum feito recentemente, já que conseguiu colocar as projeções para o IPCA em 4,50% para os anos de 2018 e 2019. O trabalho, de acordo com um diretor do BC a um economista de mercado, vem tendo resultado “de trás para frente”. Para 2017, houve uma pequena redução das previsões dos agentes, de 4,75% para 4,70%. Entre os analistas do grupo Top 5 para o médio prazo, há mais confiança, pois as estimativas já estão em 4,5% para os três anos. As projeções para 2016, no entanto, seguem congeladas em 5,50% há um mês e meio.
Ele enfatizou que o efeito de pass-through, ou repasse dos preços, possui uma intensidade menor na atual fase do ciclo de negócios pelo qual o Brasil passa.
Esta discussão sobre a maior ou menor flexibilidade da inércia é o mais novo tema de discussão no BC e entre economistas do setor privado. O tema foi lançado durante palestra a investidores de Londres promovida pelo diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon. Na sequência, o BC trouxe um boxe no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) sobre o tema, que, conforme Awazu destacou na ocasião, serviria para a “reflexão de todos”. O BC vem reiterando que, por enxergar uma inércia menor do que o mercado financeiro, vai conseguir levar a inflação para o centro da meta de 4,5% no fim do ano que vem. Entre os agentes financeiros, no entanto, ainda há um ceticismo sobre o cumprimento dessa tarefa.
Awazu voltou ao tema hoje durante seminário na França. Lá, ele também destacou que a política fiscal contribui para conter a inflação de demanda, citou a moderação do mercado de crédito e a redução dos subsídios e cogitou a possibilidade de um aumento da volatilidade dos preços dos ativos com a normalização das condições monetárias.
Crédito
O diretor de Política Econômica do BC afirmou também no seminário que a economia brasileira passa por uma moderação no crédito, mas sem aumento na inadimplência. Para ele, essa moderação é consistente com os ajustes macroeconômicos em curso e o atual ciclo econômico.
Os slides que Awazu usou em sua apresentação mostram que a projeção é que o crédito caia para 54,4% do PIB em 2015, de 54,7% em 2014. De 2009 a 2014, a média de crescimento nominal anual foi de 16,1%, após um patamar de 25,4% de 2005 a 2008, o que mostra uma “melhora estrutural”.
A apresentação também mostra que o ritmo de crescimento do crédito estava em 10,1% em maio, enquanto a inadimplência era de 3,0%. No fim do mês passado o BC reviu de 11% para 9% a projeção de expansão do crédito este ano, o que seria o desempenho mais fraco dos últimos 12 anos.
Grécia
Sobre a crise grega, Awazu salientou que a possibilidade de saída da Grécia da zona do euro é um fator a mais de estresse. Ele disse que a normalização dos mercados é complexa e voltou a destacar que o processo conduzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) é o mais aguardado, anunciado e preparado evento econômico. A despeito disso, segundo ele, o “Grexit” – neologismos criado recentemente para tratar a saída da Grécia da Zona do Euro – “adiciona algum estresse”.