O atual diretor de Assuntos Internacionais e indicado para a diretoria de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, fez um diagnóstico pessimista sobre a trajetória da inflação no Brasil após o fim das reuniões econômicas do G-20, que agrupa as 20 maiores economias do mundo. Ao analisar o efeito do ajuste verificado no câmbio e nas tarifas públicas, Awazu reconheceu que o processo “representa alta da inflação como vimos em janeiro e provavelmente vamos ver ao longo da primeira parte desse ano”.
Awazu comentou que o Brasil vive atualmente o ajuste de dois importantes preços da economia: o câmbio – com a desvalorização do real em relação ao dólar – e das tarifas públicas – que estão subindo em relação ao restante dos preços. “Sabemos que esses dois preços relativos têm reflexo na inflação. Esse aumento da inflação no curto prazo tem levado à revisão para cima das expectativas do mercado de inflação para 2015”, disse.
“Sabemos que esse processo está em curso na primeira parte do ano e que é fundamental que a política monetária trabalhe e mantenha-se especialmente vigilante para garantir que as pressões de curto prazo não se propaguem para os horizontes mais longos”, disse Awazu. “Os ajustes de preços relativos têm de ser reais e efetivos. Para isso, a política monetária tem de trabalhar focada no objetivo de trazer a inflação à meta de 4,5% em dezembro de 2016”, completou.
Ao analisar o trabalho que deve ser realizado pelo Banco Central, Awazu fez uma análise pessimista e usou um discurso conservador “É fundamental que o papel da política monetária seja no sentido de limitar os efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos”, disse.
Em entrevista no fim da reunião do G-20, ele disse duas vezes na conversa com jornalistas que a “política monetária deve manter-se especialmente vigilante para garantir que essas pressões detectadas no curto prazo não se propaguem para horizontes mais longos”.
“Em outras palavras, para cumprir o papel macroeconômico de correção dos desequilíbrios, redução de vulnerabilidades e trajetória de crescimento mais à frente, é fundamental que os ajustes de preços relativos sejam reais e efetivos”, disse Awazu. “Para isso, a política monetária tem de trabalhar focada no objetivo de trazer a inflação à meta de 4,5% em dezembro de 2016.”
Para o diretor de Assuntos Internacionais, o processo de reequilíbrio por que passa a economia brasileira vai permitir ao País diminuir vulnerabilidades no curto prazo e permitirá ao Brasil se preparar “para período de crescimento mais balanceado e sustentável mais à frente, a partir de 2016”.
EUA e petróleo
Para Awazu, o Banco Central não deve relaxar diante de alguns fatos positivos externos. “Os Estados Unidos estão crescendo mais e o petróleo está mais barato. São fatos positivos, mas não devem nos elevar a nenhuma complacência”, disse, ao comentar o processo de ajuste doméstico por que passa o Brasil.
“É um quadro complexo, mas esse cenário global não altera significativamente a necessidade nossa, do Brasil, de continuar com o trabalho de ajustes domésticos”, disse Awazu, que espera a sabatina do Senado para ocupar o lugar de Carlos Hamilton Araújo. Durante a conversa com jornalistas, Awazu repetiu pelo menos três vezes que “não devemos ser complacentes”.
O diretor do BC comentou que, durante as reuniões das 20 maiores economias do mundo, o G-20, o Brasil compartilhou a sensação de que o processo de aceleração da economia dos Estados Unidos é positivo.
Também haverá algum impulso na demanda global gerado pela queda dos preços do petróleo. Apesar desses fatores positivos, Awazu bateu na tecla de que o Brasil não pode baixar a guarda. “Do nosso lado, isso não significa que não podemos ter nenhuma complacência. Temos de nos manter em alerta sobre como será esse período e se vai haver alguma volatilidade”.