A atual realidade verificada pelo sistema de saúde brasileiro traz à tona o conflito vivenciado por empresas de planos de saúde, usuários e profissionais da saúde. Baseando-se no sistema americano, o modelo brasileiro vem sofrendo o mesmo tipo de esgotamento do sistema, culminando com o cenário em que os muito ricos têm acesso à assistência médica, e os pobres – e no caso brasileiro a classe média – tem à vista o retorno ao sistema público de saúde.
Por outro lado, entre as alternativas encontradas em meio ao caos está a do sistema de autogestão. Essa foi a forma encontrada por empresários e entidades de classe para continuar oferecendo uma assistência médica adequada a um custo socialmente dividido entre os usuários, que nesse sistema atuam como donos do próprio plano.
Sem fins lucrativos
A autogestão funciona nos moldes de um plano de saúde, mas com uma grande diferença, pois não visa fins lucrativos. Isso resulta numa grande qualidade e quantidade de serviços com muitos benefícios, além de possuir um custo menor do que um plano empresarial convencional. “São os usuários que vão definir os benefícios para, a partir disso, chegar a uma mensalidade que seja compatível a todos”, informa o consultor em gestão da saúde, o médico Marcial Ribeiro.
Por esse modelo, algumas empresas conseguem ficar alguns anos sem acréscimo nas mensalidades, pois, com o dinheiro arrecadado e com o fato de que não têm fins lucrativos, é criado um fundo de reserva. Ribeiro aponta que esse dinheiro é utilizado para cobrir os reajustes dos serviços que os hospitais oferecem. “Muitas vezes, a necessidade do reajuste é absorvido com a utilização desse fundo”, esclarece ele.
Esse é o caso da Associação dos Procuradores do Estado do Paraná, que congrega cerca de 200 vidas no sistema de autogestão. Existente há sete anos, a assistência à saúde pela autogestão ficou por três anos sem reajuste. “Isso não é milagre, mas está baseado no custo melhor do que os planos convencionais e na menor despesa administrativa da autogestão”, acrescenta Ribeiro.
Outro exemplo bem-sucedido é o da Caixa de Assistência do Crea-PR, existente há cerca de um ano com o sistema de autogestão, tendo potencial para reunir até 300 mil pessoas, entre os profissionais registrados no Crea e inclusive empresas e seus colaboradores.
Segundo Ribeiro, a autogestão prova que o sistema não está apenas ao alcance de grandes corporações, mas também disponível a entidades de classe que resolveram organizar sistema de saúde baseado nesse princípio.