O descompasso entre o ritmo de produção das fábricas e as vendas do varejo provocou um aumento dos estoques em setores importantes, como carros, embalagens, materiais de construção e até alimentos na virada do semestre. Com encalhe crescente, houve indústrias que iniciaram o mês dando férias ou cortando hora extra. O comércio reduziu pedidos e optou por promoções nas quais na compra de um item, o segundo é de graça.
Dados da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que, pelo segundo mês seguido, a fatia de empresas com estoques excessivos aumentou em junho e atingiu 5,3%. De 14 setores pesquisados, em 9 cresceu o porcentual de companhias que declararam ter estoques acima do normal na comparação com maio. A pesquisa já desconta o comportamento típico de cada mês. Quando se leva em conta junho de 2010, o período mais recente de estoques baixos, o volume de produtos indesejáveis cresceu em todos os setores pesquisados, exceto nos eletrônicos, observa o responsável técnico pela pesquisa, Jorge Ferreira Braga.
Quase todos os segmentos de embalagens registraram em junho um aumento da parcela das empresas com estoques excessivos. Em junho, 52,5% dos fabricantes de embalagens metálicas e 15,9% das indústrias de material plástico para embalagens informaram que estavam com volumes excessivos de produtos.
Segundo Braga, o aumento dos estoques de embalagens é um termômetro importante de outros setores. Está relacionado com a redução da demanda interna por bens duráveis e não duráveis, em resposta ao aperto no crédito dado no fim de 2010 e aos aumentos sucessivos na taxa de juros desde janeiro. “A demanda diminuiu, mas a produção continuou no ritmo anterior. É claro que esse movimento acabaria provocando acúmulo de estoque”, diz o economista.
“Todo mundo hoje está com estoque porque o crescimento do PIB vai ser menor”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, José Ricardo Roriz Coelho. Ele conta que os estoques do setor chegaram a 25 dias e o normal é 20. Esse acréscimo, segundo ele, ocorreu por causa da redução das encomendas das indústrias de alimentos, da construção civil e das montadoras de veículos.
Na semana passada, a Fiat deu férias coletivas para um turno dos trabalhadores da fábrica de Betim (MG). Segundo a FGV, 8,9% das montadoras tinham estoques excessivos em junho ante 0,5% em maio. Entre indústrias e concessionárias, há o equivalente a 33 dias de vendas de carros nos pátios, um volume muito próximo do considerado crítico para o setor, que é de 35 dias.
O encalhe de veículos fez revendas de três marcas concorrentes (GM, Nissan e Fiat) se unirem para desovar cerca de 2 mil carros. Três concessionárias decidiram fazer hoje e amanhã o primeiro feirão de rua, na Avenida Nazaré, no Ipiranga. “A expectativa é vender 400 carros”, diz o diretor da Itororó, Gilberto Antonialli. Entre as vantagens oferecidas está o primeiro pagamento só para novembro, quando é a paga a 1.ª parcela do 13.º salário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..