O reajuste para consumidores residenciais da Light aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve ter impacto de até 0,05 ponto porcentual na inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre março e abril, conforme cálculos feitos por analistas a pedido do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Ainda que mais elevado que o previsto, os especialistas ponderam que o aumento não deve provocar alteração nas expectativas para a inflação de 2018, que seguem abaixo de 4,00%.
Segundo os analistas, as surpresas de alívio nos preços de alimentos neste início de ano é um dos fatores que podem limitar avanço da inflação deste ano, assim como a permanência da bandeira verde nas contas de luz, que não tem cobrança extra aos consumidores.
Nesta terça, a Aneel autorizou reajuste médio de 10,36% nas tarifas da Light, que atende a 3,8 milhões de unidades consumidoras no Rio de Janeiro e outros 30 municípios do Estado. Para consumidores conectados à alta tensão, o aumento será de 13,40%, e para a baixa tensão, a alta será de 9,09%. Para consumidores (B1), classe residencial, a elevação será de 9,35%. Os aumentos passam a vigorar nesta quinta-feira, 15.
A analista Izabel Faez, da LCA Consultores, diz que esperava um aumento de cerca de 8,30% nas tarifas da Light, na comparação com reajuste autorizado de 9,35% para os consumidores residenciais. Contudo, ela pondera que a elevação não altera a projeção para o IPCA deste ano, que prossegue em 3,8%. “Como ficou perto, não muda as estimativas, não altera a dinâmica de inflação favorável”, avalia, ao estimar impacto de 0,04 ponto porcentual no IPCA deste ano.
“Por hora, a alta não altera nossa projeção para inflação, mas adiciona preocupação em relação aos próximos reajustes das outras elétricas. Veio maior e está acima da inflação”, avalia o economista Leonardo França Costa, da Rosenberg Associados, que mantém estimativa de 3,50% para a inflação fechada deste ano. “Os preços de Alimentação estão indo muito bem, no sentido de surpreenderem para baixo”, completa, justificando a manutenção da estimativa de IPCA. Depois de fechar 2017 em 2,95%, a inflação acumulada em 12 meses até fevereiro de 2018 é de 2,84%.
“Ainda estamos com 4,1%, mas vamos revisar por causa de alimentos muito baixos em fevereiro”, acrescenta o analista Everton Carneiro, da RC Consultores.
Segundo o economista Wellington Ramos, da Austin Rating, o impacto estimado do reajuste da distribuidora energética do Rio é de 0,05 ponto porcentual. Por isso, diz, a projeção para o IPCA de março passou para 0,26%. “Porém, para o ano não muda. Continua em 3,8%”, diz. Se a estimativa for confirmada, ainda ficará um pouco abaixo do IPCA de fevereiro, que fora de 0,32%.
Considerando o aumento de 9,09% para consumidores de baixa tensão, o economista-sênior do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Flávio Serrano, estima elevação de 0,03 ponto porcentual no IPCA dividida entre este mês e abril. Como o impacto é pequeno e o economista já colocava em suas planilhas alta na faixa de 7% para o reajuste da Light, Serrano manteve suas projeções preliminares para a inflação deste mês (0,15%) e do mês que vem (0,40%), assim como do ano (3,90%).
“O ponto mais importante desse aumento da Light é que está reforçando os reajustes mais altos de energia do que era imaginado. O que deve ‘salvar’ os preços de energia este ano é a bandeira, que pode ficar verde a maior parte do tempo e até terminar nesse nível”, avalia o economista do Haitong.
Segundo França Costa, da Rosenberg, o que de certa forma tem limitado mais encarecimento na conta de luz dos brasileiros é o fato de a bandeira em vigor ser a da cor verde. “Se mudar, tende a alterar o cenário. Além disso, estamos esperando para ver quanto será o reajuste da Cemig”, afirma.
Na semana passada, a Aneel propôs reajuste médio de 25,87% nas tarifas da Cemig, o que surpreendeu o mercado, que esperava um aumento menor. Se essa alta for aprovada, o impacto no IPCA estimado é de até 0,10 ponto porcentual na inflação deste ano. Por enquanto, a Rosenberg e o Haitong esperam altas de 4,5% e de 6,0%, respectivamente, para energia no IPCA deste ano após 10,35% em 2017.
Dentre as três principais participações na composição do IPCA, São Paulo é a capital que tem a maior peso, de 30,7%, seguida por Rio de Janeiro (12,1%) e Belo Horizonte (10,9%).