Os recentes aumentos de preços do álcool e dos demais combustíveis mostram, na prática, que se torna cada vez mais difícil trazer a inflação para próximo da meta anual de 4,5%, de acordo com o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli.

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Segundo ele, a falta de álcool, alegada pelos usineiros, deu-se em função do desvio de parte da produção para ganhar com os altos preços do açúcar no mercado externo. Uma questão, portanto, passível de controle interno. Mas, no caso dos combustíveis derivados de petróleo, o Brasil não tem como controlar os preços internacionais.

Por essa razão, Piscitelli manifestou-se cético quanto à avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que manteve estimativa “zero” de reajuste acumulado para a gasolina e o gás de cozinha neste ano, como revelou ontem (10) a ata da reunião do Copom, na semana passada.

Ele disse que em função, principalmente, da instabilidade política em países produtores de petróleo, no Norte da África e no Oriente Médio, “é difícil segurar os preços do produto lá fora, com reflexos na cadeia de consumo no mercado doméstico”.

De acordo com o professor, embora a Petrobras seja grande o suficiente para garantir o abastecimento interno, “ela é uma empresa internacional, e não pode se descolar das ingerências de mercado”. Neste ponto não tem saída, e quando o petróleo sobe, quase tudo o mais acompanha, disse Piscitelli.

Mais uma razão também, segundo ele, para duvidar da estimativa de 4% para o reajuste acumulado dos preços administrados por contrato ou monitorados (combustíveis, energia elétrica, telefonia fixa, água, transporte público, saneamento, saúde, educação e outros). Bens e serviços que representam quase um terço na composição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de parâmetro para as correções oficias.

A dúvida se manifesta porque, segundo ele, o ano começou com forte concentração de reajustes de preços em alguns itens administrados, como impostos sobre propriedade de veículos e de imóveis urbanos, além de educação e de transporte público em algumas capitais. Alguns, acima da inflação dos últimos 12 meses, e agora o governo acaba de autorizar reajustes nos preços dos medicamentos até 6%.

Dúvidas

Ex-servidor do BC, com atuação no Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Newton Marques também manifesta dúvidas quanto à meta de 4% para os preços administrados neste ano. Principalmente porque o Índice Geral de Preços (IGP), que está acima de 11%, é utilizado para indexar contratos de aluguel e de contas de luz, por exemplo.

“É difícil segurar os preços, quando eles aumentaram muito”, principalmente por causa da existência de um mercado consumidor forte, segundo Newton Marques. No momento, ele não vê horizonte para que a inflação, hoje de 6,01% nos últimos 12 meses, se reaproxime do centro da meta de 4,5%.

A arma mais comum, usada pela autoridade monetária para combater a inflação, tem sido o aumento da taxa básica de juros (Selic), que está em 11,75% ao ano e é a mais alta do mundo desenvolvido ou em desenvolvimento. Mas ele lembra que “a alta dos juros tem custo muito alto, além de manter o Brasil na contramão dos outros países, que estão com taxas próximas a zero”.

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