Rio – Os escândalos nos balanços financeiros das empresas que abalaram o mundo empresarial nos últimos dois anos, condenando à bancarrota uma das maiores firmas de auditoria do mundo, a Arthur Andersen, acabaram sacudindo o setor de auditorias e consultorias e impulsionaram os negócios no Brasil. Este ano, apesar da economia em marcha lenta, as empresas falam em taxas de crescimento de negócios que chegam a 30%.
Só o setor de auditoria deve fechar o ano movimentando R$ 2 bilhões, enquanto o de consultoria fecha o ano com receita de cerca de R$ 15 bilhões.
– A legislação criada após os escândalos, como a Lei Sarbanes-Oxley nos EUA, acabou obrigando as empresas a adotarem padrões mais rígidos em suas contabilidades. Isto, por sua vez, somado à quebra da Arthur Andersen, gerou muitos negócios nos últimos dois anos – diz Oscar Caipo, vice-presidente para América Latina da BearingPoint, que comprou a área de consultoria da KPMG.
A Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, estabeleceu regras mais rígidas para a divulgação de balanços das empresas americanas e suas subsidiárias no exterior, aumentando controles internos e obrigando as firmas que antes prestavam serviços de auditoria e consultoria a separarem essas áreas em empresas distintas. Assim, a KPMG vendeu sua parte de consultoria, a IBM Business Consulting Services comprou a área de consultoria da Pricewaterhouse, enquanto a Andersen Consulting ganhava uma dissidência, a Accenture.
A Deloitte Touche Tohmatsu chegou a anunciar uma cisão e a criação da Braxton, mas voltou atrás e hoje é a única das grandes do setor a ter as duas áreas.
– Cedo ou tarde a Deloitte terá que se dividir – profetiza um executivo do setor.
Para Mauro Moreira, sócio da Ernst & Young, existe hoje “um novo desenho no setor de auditorias e consultorias”. As cinco gigantes da auditoria deram lugar a quatro grandes: KPMG, Ernst & Young, Deloitte e Pricewaterhouse. Na área de consultoria, brigam três: BearingPoint, IBM e Accenture.
– É claro que a recessão nos afeta, mas as empresas também precisam de projetos de curto prazo para reduzir gastos – diz Sérgio Lozinsky, sócio da IBM Services.
– A competição ficou maior, mas novos serviços surgiram – complementa Pedro Melo, sócio da KPMG.
No Brasil, a Instrução Normativa 308 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) obrigaria, a partir de 2004, as empresas de auditoria a fazerem um rodízio a cada cinco anos. A Petrobras se antecipou ao processo e trocou Price e Deloitte por Ernst & Young e KPMG.
A pressão do setor contra o rodízio fez, entretanto, a CVM reconsiderar o dispositivo. A decisão sobre o assunto sairá este mês, garantiu o presidente do órgão, Luiz Leonardo Cantidiano.
– As empresas têm razão quando argumentam que, se (o rodízio) fosse bom, França, Alemanha e EUA estariam exigindo. O texto exige a troca de empresas e não a substituição de equipes. Assim, a auditoria que assumir o lugar da antiga pode contratar todo o pessoal da prestadora de serviço anterior – comenta Cantidiano. – Da forma que está, o texto não é o ideal, e precisamos corrigir falhas como essa.
A Instrução 308 trata ainda de outro tema polêmico: a prestação simultânea de serviços conflitantes, como firmas que oferecem auditoria e consultoria simultaneamente:
– O auditor não pode ajudar no balanço e revisar seu próprio trabalho. Isso é conflitante – diz Cantidiano.