Em assembléia estadual, ontem, os auditores da Receita Federal do Paraná decidiram pela manutenção da greve, íniciada no último dia 2. Eles reivindicam plano de carreira especificamente para a categoria e valorização salarial, uma vez que as atuais remunerações estariam congeladas há onze anos. A decisão foi tomada porque o Unafisco Sindical (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal) não verificou avanços nas negociações junto ao governo para cumprimento de suas exigências.
Segundo o presidente da delegacia sindical do Unafisco em Curitiba, Norberto Antunes de Sampaio, esta semana houve encontro entre os sindicalistas e o secretariado do Ministério do Planejamento para discutir possíveis propostas, mas a resposta foi que não há recursos para a reposição salarial e que o Ministério da Fazenda não havia ainda encaminhado as reivindicações dos auditores para avaliação. ?Mesmo assim, ainda há pareceres da CGU (Corregedoria Geral da União) e de procuradores da Fazenda Nacional a serem analisados. A gente quer que pelo menos o governo abra interlocução e faça proposta que possamos deliberar junto à categoria?, afirma.
O sindicalista informa que manifestações também estão sendo feitas junto à Câmara Federal e no Senado, uma vez que setores como a indústria e comércio já começam a sentir os efeitos da greve. ?Já deve comprometer no longo prazo o cumprimento das metas de arrecadação e, assim, o superávit primário?, enfatiza. Além disso, destaca Sampaio, é do trabalho dos auditores que o governo retira os recursos para pagamento dos salários de deputados, senadores, juízes e uma série de profissionais e serviços prestados ao Estado. Ele acrescenta que, além dos salários defasados, os auditores estão ainda sobrecarregados. ?Os autos de infração lançados pelo não-pagamento de impostos a pessoas físicas e jurídicas em 2001somaram, em valores corrigidos, R$ 44 bilhões, enquanto em 2004 esse valor saltou para R$ 80 milhões, com praticamente o mesmo número de trabalhadores.? No campo dos salários, hoje um auditor fiscal em início de carreira ganha, em média, R$ 7 mil, e um profissional em final de carreira, R$ 10 mil. O que eles pretendem é que, no decorrer dos próximos quatro anos, o salário varie de R$ 16 mil iniciais a R$ 20 mil para quem está em final de carreira.
Apesar da decisão de 90% dos trabalhadores do Estado pela manutenção da greve, os sindicalistas dizem que vão respeitar a decisão do Unafisco nacional. Até o fechamento desta edição, 88% dos votantes em todo o Brasil queriam a permanência do movimento, contra apenas 11% que votavam pela volta ao trabalho. Para o presidente do sindicato no Paraná, os números são indicativos que o movimento deve continuar em todo o Brasil, por tempo indeterminado.
Prejuízos
Diversos setores já sentem os efeitos da paralisação. Nos aeroportos internacionais, como é o caso do Afonso Pena, em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, não está sendo feito desembaraço de cargas (nacionalização das importações), a não ser as de animais vivos, perecíveis ou perigosas, além de medicamentos e funerárias. Em Foz do Iguaçu, onde inicialmente os auditores não aderiram à greve, a informação colhida ontem era de que eles devem passar a respeitar, a partir de agora, o que deliberar o Unafisco Nacional. E em Paranaguá, assim como no interior do Estado, a adesão é total. Segundo Sampaio, nas regiões aduaneiras não apenas a arrecadação fica comprometida, mas também a proteção do País contra entrada e saída de produtos ilegais ou contrabandeados.