Rio
– Em tempos de incerteza política e econômica, a palavra-chave dos analistas financeiros para aconselhar sobre investimentos é proteção. Isso vale para aplicadores de todos os cacifes. Os analistas, porém, divergem sobre qual a melhor forma de ser cauteloso. Uns acreditam que a aplicação diversificada das economias em vários ativos – “não deixar todos os ovos na mesma cesta” – é a forma mais prudente de esperar a poeira baixar. Outros dizem que o melhor caminho é não mexer nas :Vivemos uma crise estrutural. Não conjuntural. O momento é de extrema cautela. O melhor é deixar o dinheiro onde estiver – opina José Nicolau Pompeo, professor de matemática financeira da PUC-SP, lembrando que a mudança de investimento implica o pagamento de impostos, como a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
Esta não é a visão do responsável pela área de renda fixa da Sul América Investimentos, Guilherme Abbud.
– Este é o momento de abrir mão da rentabilidade e buscar a segurança da diversificação – atesta Abbud.
Na opinião do gestor, o aplicador não deve ficar fora dos fundos DI, por exemplo, considerados conservadores por garantirem, no mínimo, a rentabilidade da taxa básica de juros (Selic), que subiu de 18% para 21% ao ano na segunda-feira passada.
Esses fundos são formados por títulos pós-fixados (LFTs): a cada mudança de juros, eles acompanham a oscilação e passam a render mais. Na última sexta-feira, os juros futuros, cujas taxas são negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) estavam projetando 24,25% ao ano para janeiro.
Se a regra é proteção e se existe perspectiva de alta da inflação, vários executivos, como o da Sul América Investimentos, também recomendam aplicar parte dos recursos disponíveis, até 20%, em fundos com rendimentos atrelados ao IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado, da Fundação Getúlio Vargas), que dão lastro maior para eventual alta da inflação.
– A composição do índice de mercado é diferente do IPCA, que o governo utiliza para monitorar a meta da inflação -explica Márcio Appel, gestor de fundos do Santander. Enquanto o IPCA pega os preços do varejo, 60% do IGP-M são constituídos pelos preços do atacado, grande parte relacionada à variação do dólar.
Appel, porém, concorda com o professor Pompeo e tem orientado seus clientes a manterem investimentos casados. Ou seja: para cada despesa fixa ou dívida, manter uma aplicação específica.
– É hora de correr poucos riscos – diz.
Nesse contexto, para quem é totalmente conservador, o gestor do Santander indica os chamados fundos de liquidez, que aplicam os recursos por um dia (overnight) em títulos do governo e são remunerados pela Selic.
– Esses fundos são recomendados para o investidor que não tolera que seu patrimônio sofra variação em real -diz.
Abbud ressalta que, dependendo do perfil do investidor, é aceitável até direcionar uma parte dos recursos para a compra de ações, que são consideradas ativos reais.
– Para médio e longo prazos, a bolsa vale a pena porque, no mínimo, protege o investidor da inflação – ressalta o executivo da Sul América.
Segundo ele, estudos revelam que alguns países viveram momentos de bom desempenho das bolsas depois de terem passado por rupturas. Exemplos: a Rússia, que deu o calote da dívida, e a Malásia, que centralizou o câmbio.
– Talvez porque a expectativa das crises puniu muito esses mercados, por meio da fuga de capitais. Quando o fluxo foi restaurado, as bolsas dispararam – diz Abbud.
Appel, do Santander, até considera bolsa uma boa alternativa de médio e longo prazos, desde que se saiba escolher as empresas nas quais investir. O gestor do Santander reforça, porém, que a melhor forma de proteger o patrimônio é a aplicação casada: para quem tem dívida em dólar, por exemplo, os fundos cambiais ainda funcionam, mesmo diante da forte valorização da moeda americana.
Para quem está livre de compromissos certos, Appel insiste na proteção das aplicações mais conservadoras e mais flexíveis, como os fundos multicarteira, que têm a liberdade de transitar por vários ativos:
– Esses fundos têm a vantagem de aproveitar as melhores oportunidades do momento, sem as mesmas exigências que os fundos de investimentos tradicionais. Nos multicarteira, os gestores buscam as melhores oportunidades de ganho e proteção.
Seguindo a linha conservadora, os analistas não recomendam a migração para os fundos de privatização da Petrobras a trabalhadores que aplicaram parte dos recursos do seu FGTS nos da Vale do Rio Doce.