Assuma o controle das suas contas em 2010

Como lidar com o dinheiro em 2010? Com essa dúvida, O Estado procurou o economista e administrador de empresas Luiz Afonso Cerqueira, membro do conselho consultivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças PR (IBEF-PR). Ele deu dicas básicas, mas valiosas, de economia familiar e pessoal, para serem aplicadas durante o ano.

O Estado – Nesse período inicial do ano, em que muitos estão em férias, como lidar melhor com as finanças?

Luiz Afonso Cerqueira – Fazendo um planejamento e separando as despesas em três categorias: obrigatórias, de manutenção e eletivas ou de lazer. As obrigatórias seriam, no início do ano, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), matrícula e material escolar, uniforme.

Depois vem a parte de manutenção, com alimentação, vestuário. E, em terceiro lugar, as eletivas, que são os presentes de Natal, que são comprados em dezembro para serem pagos em janeiro ou em “suaves prestações”, as férias, o celular, combustível, o lazer de um modo geral. Priorizamos as categorias, partindo da obrigatória, indo à necessária e, em terceiro lugar, as eletivas.

OE – Falando em viagem, há alguma dica para controlarmos melhor os gastos?

LAC – Tem um macete que vale nem só para viagem como para qualquer outra situação, que é fazer um orçamento: quanto vou gastar em transporte, hospedagem, alimentação, passeio.

Colocar sempre um adicional para despesas extras, que são aquelas pequenas coisas que aparecem. E se forem férias para um lugar onde há possibilidade de fazer compras, também reservar um pouco da verba para isso. E controlar esse orçamento: o previsto e o efetivamente gasto.

É um controlezinho simples e que ajuda muito em situações em que é preciso se organizar financeiramente. Não precisa ser algo muito rígido, nem diário, mas um balizador.

OE – Analisando-se os valores dos produtos em geral, o que deve ser bom para comprar em 2010?

LAC – Por enquanto, o que ainda vai ter preço bom são materiais de construção, eletrodomésticos e automóveis, principalmente, pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que está prorrogada, em alguns casos até abril, em outros até junho.

Mas em quase todas as compras que a gente faz, inclusive nas diárias, de mercado, podemos usar um truque muito simples que é pesquisar, estar sempre atento, procurando o melhor preço. Precisa ter tempo para isso, e paciência. E tentar negociar sempre com o lojista, evitando o crediário.

OE – E do lado oposto, o que deve estar mais caro?

LAC – Em princípio, não há uma linha ou tipo de produto que esteja subindo muito. A não ser os de alimentação diária, que dependem de safra, como o arroz, o feijão, a carne de gado ou de frango, frutas e verduras.

Vale procurar sempre aquele produto que está mais abundante no momento, que é sinal de preço mais baixo. É bom também ter cuidados com produtos de higiene e limpeza, em que às vezes diminui a embalagem e a quantidade, e o preço não cai na mesma proporção.

OE – Como podemos economizar muito em pequenas coisas?

LAC – Evitando produtos que sejam baratos mas supérfluos, que não têm nenhuma utilidade prática. Às vezes, temos o impulso de comprar alguma coisa só porque está barata, e acaba não tendo nenhum uso no dia-a-dia.

Vale, por exemplo, controlar a ida ao cinema, junto com o lanche. Se isso fica frequente, gasta-se muito mais do que se imaginava. Não que as pessoas tenham que se privar disso, mas fazer um uso inteligente do lazer.

Outro exemplo é sair de carro para fazer uma caminhada. Por que não caminha mais próximo de sua residência, sem precisar gastar combustível para se deslocar?

Outros exemplos são lâmpadas acesas em casa, água para lavar a calçada, aparelhos sempre ligados na tomada… No somatório, no ,final de um ano, se vê a economia.

OE – Como fazer com as dívidas que sobraram para este ano?

LAC – Pagar as dívidas começa pelo parcelamento do cartão de crédito, que é a taxa de financiamento mais cara que existe. Quem usa cartão deve sempre liquidar a fatura na data do vencimento, não sacar dinheiro, nem parcelar o valor.

Se possível, cobrir o saldo do cheque especial, que também é muito caro, e eventualmente liquidar algum outro parcelamento que tenha sido contratado com taxas mais altas, ou renegociar com o banco para uma taxa mais baixa.

Buscar crédito mais barato para quitar dívida mais cara também vale. E, principalmente, cuidar ao emprestar o nome, ao fazer dívidas em favor de terceiros. Essa bondade atrapalha a vida de muita gente.

OE – E se a dívida ainda continuar, há alguma outra saída?

LAC – A melhor é procurar o banco e fazer um parcelamento da dívida, um contrato com prazo um pouco mais longo, com uma taxa de juros compatível e uma prestação razoável para não comprometer o salário. Normalmente, os bancos têm negociado, e dão preferência para quem não tenha tido atraso. A vantagem é se antecipar e mostrar que não quer criar problema, nem para você, nem para o banco.

OE – E quem não paga as dívidas na esperança de ganhar um desconto no futuro? Essa atitude não é recomendável, certo?

LAC – Não, mas é algo que acontece. Não temos no Brasil, infelizmente, um cadastro positivo, que faria com que as pessoas que sempre se comportaram bem tivessem taxas de juros menores. Hoje, todos pagam a mesma taxa, e quem não paga a dívida ganha um baita desconto lá na frente.

Como no IPTU da casa da praia, por exemplo. O contribuinte não paga há anos, e aí tem anistia. Qual a vantagem de pagar certinho? No momento em que tiver um cadastro que indique quem são os bons pagadores, a situação vai mudar.

OE – Mesmo assim há instituições que são contra isso…

LAC – Sim, o próprio Procon é contra, e não concordo com eles nessa linha. Temos que privilegiar quem paga corretamente, embora a pessoa que deixou de pagar possa ter feito isso por uma doença, por ter perdido o emprego, por um fato que aconteceu contra a vontade dela, não só por não querer pagar. De qualquer forma, tem que ter uma distinção entre quem consegue manter a vida financeira em dia e quem não consegue.

OE – Quais são hoje os maiores vilões que incentivam o acúmulo de dívidas?

LAC – A facilidade do cartão de crédito, o cheque especial e o apelo dos crediários. Esse é o grande vilão: a facilidade de conseguir, hoje, dinheiro emprestado em várias fontes ao mesmo tempo.

OE – E para todo tipo de bem, desde o liquidificador até o carro e a casa…

LAC – Sim, hoje você compra um DVD em três ou quatro vezes. Parece que não sente o valor, R$ 10 de prestação por mês, mas se acumular isso com outras coisas, se enterra em prestações.

O grande vilão é o juro que incorre em cima delas. Hoje temos uma taxa Selic, a taxa básica da economia, que é a mais baixa da história. Mas isso não se reflete nos empréstimos bancários, nem nas taxas do crediário, que continuam muito altas.

OE – Há espaço para cair em 2010?

LAC – Se a economia se comportar do jeito que estamos prevendo um crescimento moderado, sem exageros, provavelmente exista espaço para uma queda na taxa de juros sim.

OE – E quanto aos investimentos? O que deve ser bom para investir em 2010 e de onde é bom fugir?

LAC – Se a pessoa dispõe de uma quantidade pequena de recursos, na faixa de R$ 1 mil a R$ 2 mil, ainda vale a poupança. É uma remuneração baixa, mas tem a facilidade de ser muito simples de se movimentar, se precisar do dinheiro.

Para quem tem valores um pouco maiores, um bom investimento é o tesouro direto. É possível comprar títulos do tesouro nacional, através dos sites dos bancos ou nas agências bancárias.

É um investimento interessante, bastante flexível e tem uma remuneraç&at,ilde;o bem razoável, melhor que a poupança. A bolsa é para quem tem um volume maior de recursos e pode se dar ao luxo de perder algum. Porque embora exista uma previsão de que vai subir bastante em 2010 e tem espaço para isso , existe sempre aquela flutuação normal.

Em um momento está em tendência de alta, em outro pode se inverter. Se a pessoa aplicar na bolsa só com uma visão de curto prazo, tem grande chance de perder dinheiro. A bolsa é um ótimo investimento, aliás, o melhor deles, para quem pode deixar o dinheiro lá aplicado em ações e esquecer dele.

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