Com um desempenho bem acima dos números globais da economia, o setor de revendas de carros usados no Paraná prevê encerrar 2011 com um crescimento próximo a 10%, na comparação com 2010. A expansão sinaliza que, mesmo diante das facilidades para a aquisição do carro novo, há uma parte da população que sustenta o mercado de usados. Se, de um lado, a menor depreciação do capital investido é uma vantagem significativa, do outro, a insatisfação gerada por golpes de estelionato ou problemas e defeitos nos bens constitui-se em uma grave desvantagem.
Pelo acompanhamento da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas de Curitiba (DEDC), semanalmente há pelo menos uma ocorrência envolvendo vítimas de golpes por conta do comércio irregular de veículos usados. “Um dos crimes mais comuns é a venda de carros que foram financiados com a documentação de um laranja, em geral, alguém que já faleceu”, explica o delegado titular da DEDC, Cassiano Lourenço Aufiero.
Marcos Borges |
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Loja de carros abandonada na capital. |
Outra situação corriqueira é de estelionatários que compram com cheques sem fundo e revendem rapidamente lesando quem vendeu e quem comprou atraído por uma oferta espetacular. “As vítimas, quando descobrem, acabam disputando o carro que restou”, lamenta o delegado. Aliás, em agosto deste ano, pela décima primeira vez foi presa por crime de estelionato uma mulher de 50 anos, Eliane Regina Gomes, que é acusada de aplicar esses golpes em várias pessoas na cidade. “Coincidência ou não, depois dessa prisão, caiu bastante o números de ocorrências”, relata o delegado.
Da seara criminal para a dos direitos dos consumidores, os números também não são animadores. Somente neste ano, até a última semana de outubro, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-PR) já havia registrado 1.335 reclamações por danos e defeitos de veículos seminovos e 307 atendimentos relacionados ao descumprimento de ofertas. A advogada do Procon-PR, Cila dos Santos, ressalta que em ambas as situações os documentos necessários para iniciar qualquer negociação são o recibo e o contrato de compra e venda.
“Por lei, as revendas precisam fornecer 90 dias de garantir para os usados, daí a necessidade da documentação com a data em que a compra foi efetuada. Além disso, no que se refere aos vícios ocultos, o fornecedor deve proceder da mesma forma que as lojas de carros novos, substituindo o produto”, alerta. A mesma documentação também se faz necessária para que o novo dono consiga se livrar de eventuais multas geradas pelo antigo proprietário do veículo. “É pela data da compra que ele irá comprovar”, explica a advogada do Procon-PR.
Profissionalização da revenda como antídoto
Para a Associação de Revendedores de Veículos Automotores no Estado do Paraná (Assovepar), o amadurecimento do mercado de compra e venda de usados tende a tornar cada vez menos frequentes os problemas inerentes ao negócio. “É um mercado altamente competitivo, que exige planejamento e cada vez mais impede que amadores permaneçam com as portas abertas por muito tempo”, define o diretor da Assovepar e proprietário da Exclusiva Veículos, Gilberto Deggerone.
“O próprio mercado marginaliza quem não age de maneira ética e profissional. Até mesmo os bancos deixam de conceder boas taxas para quem tem um negócio precário, o que faz toda a diferença na hora de vender, já que torna o negócio menos competitivo”, aponta Deggerone. Ele acredita que golpes e transtornos com usados ainda aconteçam com consumidores que não procuraram realizar negócios com revendas devidamente estabelecidas. “Em Curitiba e Região Metropolitana, somos 1,4 mil entre revendas e concessionárias. Esse número se mantém estável há pelo menos ,três anos e isso só acontece com empresas sérias que trabalham com boas mercadorias, preços justos e gente preparada para atender no pré e no pós-venda”, defende.
Carros maiores e equipados a preços de populares
Marcos Borges |
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Deggerone e Pereira: profissionalização e cuidados. |
A preferência por um carro usado se dá por duas motivações: adquirir um modelo mais robusto e equipado por valor bem inferior na comparação com um veículo novo e a desvalorização mais lenta do bem adquirido. “O valor do carro novo diminui quando sai da loja”, aponta o chefe de recepção Pedro Gomes Pereira. Proprietário de um Fox ano 2005, que adquiriu em agosto, ele conta que o antigo veículo, um Gol geração 3 ano 2003, permaneceu cinco anos com ele. “O que fez a diferença foi o local de compra, pois se até o carro novo dá problema, no usado as chances aumentam. Quando a revenda não dá a assistência no pós-venda, tudo fica mais complicado”, aponta.
O Gol de Pereira ilustra bem como a desvalorização é mais lenta. Em 2006, ele comprou o Gol por R$ 24,5 mil. Neste ano, ele vendeu o mesmo carro por R$ 17 mil. “Cuido bem do carro e costumo deixar ainda mais completo, mesmo assim, perdi menos dinheiro do que se fosse um Gol novo”, compara.
Antes de encontrar uma loja que o atendesse bem, Pereira amargou algumas experiência bem desagradáveis. “Certa vez, precisei ameaçar sustar o cheque, porque não queria trocar um veículo que me venderam sem condições de uso”, recorda. Experiente no tema, Pereira dá duas dicas para quem quer fazer um bom negócio na compra de seminovos: “Leve um mecânico da sua confiança para verificar o veículo e procure comprar em um estabelecimento com boas recomendações”. Outro cuidado que ele costuma ter é comprar carros que tenham tido apenas um dono. “Tenho que ser o segundo proprietário. Isso reduz o risco de dor de cabeça”, conclui.