Portugal começa a sentir os efeitos dos cortes feitos pelo governo no orçamento, aumentando a perspectiva de tumultos sociais em um país que sofreu três anos de austeridade apenas com manifestações pequenas e esporádicas. Passeatas foram marcadas para ocorrer no Porto e em Lisboa em 1º de outubro e uma greve geral é discutida pelas centrais sindicais.
“Os portugueses não acreditam que algo vá acontecer até que realmente ocorra. Agora, acontece e o que acontece é ruim de verdade”, disse Maria do Carmo Tavares, integrante do comitê executivo da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), maior central sindical portuguesa. “Certamente, os portugueses protestarão mais, à medida que a situação econômica do país fica insuportável”.
Desde que tomou posse, o governo de centro-direita de Portugal anunciou aumentos nas tarifas do transporte público e um substancial aumento nos impostos sobre os combustíveis. Também foi criado um imposto especial para 2011. Pessoas que ganham acima de 1.500 euros ao mês verão um terço do salário mensal capturado pelo imposto, que é cobrado uma vez.
“Novas taxas estão claramente tendo um peso e isso só ficará pior”, disse Maria Manuela Pacheco da Costa Amaral, que se aposentou no começo deste ano com uma aposentadoria mensal de 551 euros, um pouco acima do piso mínimo. Para cobrir suas despesas, ela ainda precisa trabalhar em meio período como auxiliar de escritório em Lisboa. “O protesto será comum porque as pessoas estão infelizes”, disse.
Mais dificuldades estão à vista, com cortes nos gastos públicos, outros aumentos de impostos para equilibrar uma redução nas contribuições corporativas à previdência social e uma reforma trabalhista que prevê indenizações menores para empregados demitidos.
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, conservador, descartou “resultados rápidos para sacrifícios leves” e pediu na semana passada aos sindicatos, empregados e empresas que trabalhem juntos para evitar “tumultos sociais”. “O conflito que vemos em outros países pode ser justificado, mas este não é o caminho que queremos para Portugal”, afirmou em comunicado.
Portugal tem poucas opções a não ser tomar medidas duras. O país pediu ajuda internacional em abril após não conseguir convencer os investidores de que fazia o suficiente para equilibrar suas abaladas finanças. Em troca de um pacote de 78 bilhões de euros de três anos, prometeu à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) reduzir o seu déficit e realizar mudanças estruturais para levar o crescimento a setores cruciais para a economia.
O problema é que as medidas de austeridade poderão prolongar a depressão econômica por mais dois anos e aumentar o desemprego, que já é de 12% da força de trabalho. As informações são da Dow Jones.