Em fevereiro, foi observada a primeira queda na margem do estoque de crédito com recursos livres para as famílias em um ano. De acordo com dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira, 25, houve recuo do saldo de 0,3% em fevereiro ante janeiro, para R$ 784,1 bilhões. Em fevereiro do ano passado, o estoque passou de R$ 747,2 bilhões para R$ 745 bilhões. “Há dinâmica de arrefecimento no crédito ao consumo. Isso não é tendência na margem, pois já ocorre desde 2013”, considerou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
De acordo com ele, uma explicação para esse desempenho é o mercado imobiliário. “Houve desaceleração e a tendência é de continuidade de desaceleração do crédito imobiliário”, considerou. Apesar disso, Maciel lembrou que, no geral, houve expansão do estoque no mês e que isso ocorre em ambiente de “plena estabilidade da inadimplência”. O saldo total aumentou 0,1% no mês passado, para R$ 1,567 trilhão, quando é observado o segmento de recursos livres e 0,5% quando todo o sistema financeiro é avaliado.
Automóveis
Segundo Maciel, o melhor retrato da retração do crédito para o consumidor pode ser visto no segmento de automóveis. “Há dinâmica de arrefecimento no crédito ao consumo já há algum tempo e o segmento mais emblemático é o de veículos, que voltou a recuar em fevereiro”, salientou. “Concordo que temos moderação no crédito para consumo”, acrescentou.
O técnico observou que o arrefecimento da economia está associado a esse movimento e que “boa parte” da renda está alocada em financiamento para imóveis. O crédito imobiliário cresceu mais de 50% em 2007 e 2008 e, desde então, têm sido registradas expansões menores – até pelo aumento da base de comparação.
Em fevereiro, a alta desse segmento foi de 26,7%, considerada ainda expressiva, já que está “bem acima” do crédito total, de 23,4%. “A tendência é de continuidade de desaceleração do crédito imobiliário, como é vista já há alguns anos”, disse Maciel. Além disso, de acordo com o técnico, outro fator que influencia os dados é a própria elevação do custo do crédito, com a elevação dos juros. “É a reação que se espera num ciclo de aperto monetário.”
Em fevereiro, houve queda do estoque do crédito do cartão à vista, mas Maciel salientou que trata-se de algo específico para o mês. “Diferentemente do segmento de veículos, que já vem há algum tempo”, considerou. A baixa do estoque de crédito para cartão à vista foi de 2,5% no mês passado ante janeiro, para R$ 4,288 bilhões. Em 12 meses até fevereiro, é vista uma elevação de 4,9%. Já no caso de veículos, a contração no mês passado foi de 1%, para R$ 181,940 bilhões e, em 12 meses, a baixa é de 5,2%.
Juros
De acordo com Maciel, o juro do crédito livre para Pessoa Física, que ficou em 54,3% ao ano em fevereiro, é o mais alto da série histórica do BC, iniciada em março de 2011. Mais cedo, o Broadcast informou que a taxa média geral de juros no crédito livre, que subiu de 39,1% ao ano em janeiro para 40,6% ao ano em fevereiro, também era o recorde da série histórica.
“Em última instância, alta de juro reflete o atual ciclo de aperto monetário”, disse o técnico. Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 12,75% ao ano. Além disso, segundo Maciel, também reflete algum efeito de composição, já que algumas taxas voltadas para o consumidor têm crescido acima da média.
Ele lembrou que, no passado, essas taxas chegaram a ser ainda mais elevadas. Em 2005, por exemplo, o juro para PF era superior a 60% e naquela ocasião o BC ainda não havia incorporado os juros do cartão de crédito, que costumam ser os mais elevados do mercado.