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Ricardo Pinheiro: fenômeno era previsível.

Brasília (AE) – Depois de vários meses de alta contínua, o ritmo de crescimento da arrecadação federal começou a desacelerar em maio, conforme os dados divulgados ontem pela Receita Federal. A soma total de impostos e contribuições arrecadados pelo governo federal chegou a R$ 27,094 bilhões no mês passado – um recorde para os meses de maio, mas apenas 2,02% superior a maio de 2004, já descontada a inflação. No acumulado do ano, entre janeiro e maio, a receita mantém crescimento real de 5,24%, ante 10,62% no ano passado.

A desaceleração da receita reflete principalmente o efeito do PIS e da Contribuição de Financiamento da Seguridade Social (Cofins), que apresentaram queda de 5,52% e 7,99%, respectivamente. Segundo o secretário adjunto da Receita, Ricardo Pinheiro, esse fenômeno era previsível, uma vez que em maio completou-se um ano desde que o governo começou a tributar com PIS e Cofins os produtos importados, logo na entrada no País. Essa medida, na prática, antecipou e ampliou a tributação sobre as importações.

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Nos primeiros meses em que essa medida entrou em vigor, a receita das duas contribuições deu um salto. Uma das razões era que, pela nova regra, a importação era tributada logo que chegava no País e gerava, para o importador, um crédito tributário. Esse crédito, porém, não foi usado de imediato, o que ?inflou? a arrecadação do PIS e da Cofins. Mas, à medida em que os créditos foram sendo utilizados, o fluxo da arrecadação dessas contribuições normalizou-se.

Outra razão foi o chamado ?efeito estatístico?. Toda vez que a Receita muda uma regra de tributação, ela passa os meses seguintes comparando a arrecadação pela regra ?nova? com a arrecadação pela regra ?velha?, quando calcula a variação de um determinado mês com igual mês do ano anterior. No caso do PIS e da Cofins, enquanto as bases de comparação estiveram diferentes, as taxas de crescimento eram elevadas. Agora, que as bases se igualaram, houve até queda.

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De acordo com Pinheiro, esse fenômeno deve se repetir pelos próximos três meses, contribuindo para o amortecimento da taxa de crescimento da receita, já que o PIS/Cofins representa atualmente 32% da arrecadação total.

Excluindo as duas contribuições, a arrecadação federal registra crescimento real de 7,3% em maio e 4,9% em cinco meses. Ou seja, enquanto o PIS/Cofins caem, outros itens da arrecadação continuam crescendo a ritmos elevados, apesar da aparente desaceleração da economia detectada pelo IBGE no primeiro trimestre do ano.

A receita do IPI, por exemplo, registrou crescimento de 9,31% acima da inflação em maio, acumulando alta de 11,83% no ano. A arrecadação do Imposto de Renda, por outro lado, apresentou crescimento de 12,55%, apesar do menor valor recolhido sobre rendimentos de capital, devido à nova sistemática de cobrança semestral sobre as aplicações financeiras.

Só o IR de Pessoas Jurídicas já acumula alta de 19,47% no ano, com destaque para os setores de telecomunicações, extração de minerais metálicos, metalurgia básica e eletricidade e gás. A Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), que é cobrada sobre uma base parecida com a do IRPJ, também acumula uma alta de 18,17% nos cinco primeiros meses do ano. Só um imposto, a Cide, cobrada como valor fixo sobre o litro da gasolina, tem apresentado queda nominal em sua receita, desde o início do ano.

Segundo Pinheiro, esse fato é explicado pelo menor volume de petróleo importado pela Petrobras, fruto da alta cotação internacional do barril. Em tese, entretanto, a arrecadação não cairia se a produção nacional estivesse compensando integralmente a menor importação, de modo a manter constante o volume de combustível comercializado.

De acordo com o secretário, o impacto das medidas de desoneração tributária – a chamada ?MP do Bem? – recentemente anunciadas pela equipe econômica, acarretarão uma redução de R$ 1,5 bilhão na receita. O decreto de programação financeira divulgado no último dia 13, segundo Pinheiro, não incorporou essa previsão, o que precisaria ser feito nas próximas rodadas de revisão das contas públicas.

Carga tributária já atinge 41,6% do PIB

Estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) revela que a carga tributária brasileira (somatória da arrecadação de todos os tributos federais, estaduais e municipais) totalizou R$ 181,71 bilhões no primeiro trimestre de 2005, contra R$ 158,32 bilhões no mesmo período de 2004.

Além de ter registrado um crescimento nominal de 14,77% – R$ 23,39 bilhões -, o valor representa 41,6% do PIB, acima dos 40,0% registrados em igual período de 2004.

?O sistema tributário é tirano: tira ano a ano a renda, o patrimônio e o consumo do brasileiro?, diz o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral.

Segundo ele, a carga tributária está levando os contribuintes brasileiros à marginalidade: houve aumento da sonegação, que passou de 32% para 39% do total arrecadado desde 2002; da informalidade, que cresceu de 28% para 31% do PIB, nos últimos quatro anos; e da inadimplência, que cresceu 50% desde 2002.

?A inadimplência atinge cerca de 3 milhões de empresas e mais de 15 milhões de contribuintes pessoas físicas?, informa Amaral.

Governo deve atuar contra a lavagem de dinheiro

O secretário-adjunto da Receita Federal, Ricardo Pinheiro, defendeu ontem a atuação do governo brasileiro no combate à lavagem de dinheiro (dar aspecto legal a dinheiro obtido ilegalmente). Ele lembrou que o Brasil é o único país do mundo a contar com um instrumento de controle fiscal como a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), que permite detectar esse tipo de fraude.

?Quantos e quantos ?laranjas? já não foram descobertos com base na CPMF?? questionou. ?Acontece que, em vez de ficar fazendo relatório à distância sem conhecimento de caso, como determinadas instituições, a gente trabalha, mostra resultado.?

Ele fez esses comentários ao ser questionado sobre o relatório do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), que avalia a situação do combate à lavagem de dinheiro no Brasil. O texto foi divulgado pelo governo brasileiro no ano passado e incluído esta semana no site do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O relatório registra que o Brasil avançou no combate à lavagem e faz recomendações como a adoção de medidas mais efetivas para combater o financiamento ao terrorismo. O sigilo bancário e fiscal são apontados, no relatório, como empecilhos à fiscalização. Pinheiro, porém, defendeu as regras brasileiras para o sigilo bancário e fiscal. Na sua avaliação, esses dispositivos protegem ?um bem maior que é o direito de imagem das pessoas?. ?Ninguém tem nada a ver com isso exceto as autoridades constituídas?, defendeu.

A CPMF ajuda a combater fraudes financeiras porque permite à Receita saber se a movimentação financeira de uma determinada pessoa ou empresa é compatível com a renda que ela declara. Os ?laranjas? mencionados por Pinheiro foram encontrados porque são pessoas de renda baixa, normalmente isentas do Imposto de Renda, mas que movimentavam milhões no banco. Esse é o indício clássico de um ?laranja?, ou seja, uma pessoa que ?empresta? seu nome, de forma voluntária ou não, para que outra pessoa faça operações financeiras. O uso de ?laranjas? é normalmente associada a crimes, a lavagem de dinheiro entre eles.