Armínio Fraga enfrenta ceticismo de investidores europeus

Amsterdã 

– A reunião realizada ontem entre o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e cerca de 50 investidores e analistas na sede do banco holandês ABN Amro mostrou claramente o elevado grau de incerteza e a boa dose de pessimismo sobre as perspectivas da economia brasileira que ainda dominam vários setores dos mercados internacionais. O encontro serviu também para confirmar que o impacto da desaceleração global sobre o Brasil é um tema que está cada vez mais preocupando os investidores.

Durante cerca de 40 minutos, Fraga fez uma detalhada avaliação da situação brasileira. Ele ressaltou o compromisso assumido pelos candidatos à Presidência com o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), exibiu projeções que indicam a sustentabilidade do balanço do pagamentos do País nos próximos anos e assegurou que o Brasil tem condições de resistir mesmo diante de um prolongado cenário de aversão ao risco nos mercados globais.

“O Brasil está enfrentando um situação difícil, provocada pela combinação do nervosimo político e a conjuntura internacional adversa”, disse Fraga. “Mas vamos superar essa fase, tenho absoluta confiança nisso”.

Após a palestra do presidente do Banco Central, na sede do ABN Amro, foi a vez de os analistas fazerem as suas perguntas. Um deles afirmou que a taxa de risco Brasil “permanece na casa dos 2.000 pontos-base” nos últimos três meses. “Isso, na minha experiência, é o padrão de um país que vai ao default da dívida”, disse o analista.

Fraga lembrou que a taxa de risco do Brasil recuou para cerca de 1.700 pontos-base, mas que houve nos últimos meses “momentos de dúvida” sobre o País. Entretanto, segundo ele, após o anúncio do acordo com o FMI e o compromisso de responsabilidade fiscal e política monetária assumido pelos candidatos, houve uma melhora substancial no sentimento do mercado.

Em relação às perspectivas da economia global, Fraga disse não “estar muito otimista, mas haverá uma recuperaração em algum momento.”

Confiança

“Eu nunca vi um país com políticas fiscal e monetária responsáveis e que possui a nossa estrutura institucional não conseguir superar as suas dificuldades”, disse o presidente do BC. “A atual conjuntura internacional é um teste difícil, mas nós temos todas as condições e instrumentos e estamos preparados para superá-lo.”

Em seguida, Fraga teve de responder a uma série de perguntas que indicaram o perfil dos temores dos investidores estrangeiros. Um deles perguntou como um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva conciliaria maiores gastos na área social com austeridade fiscal.

Outro analista questionou as projeções de crescimento do PIB nos próximos anos diante da eventualidade da manutenção das taxas de juros num nível elevado. Um investidor holandês perguntou se a estimativa de que o fluxo de investimentos diretos estrangeiros no próximo ano será suficiente para financiar o déficit em conta corrente seria concretizada caso Lula fosse o vencedor das eleições.

Demonstrando muita calma, Fraga também foi questionado sobre a possibilidade de uma “crise política no Brasil” e também rebateu uma crítica ao fato de o País recorrido ao FMI.

Mensagem foi positiva

A mensagem tranqüilizadora que o Brasil levou a várias capitais européias nos últimos dias foi recebida “positivamente” por diferentes governos, empresários e banqueiros, afirmou nesta quarta-feira em entrevista à imprensa o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ao final de uma viagem a Paris.

“Nossa impressão é de que obtivemos resposta muito positiva”, declarou Malan, que foi a Madri e a Londres encontrando-se, depois, em Paris, com o ministro das Finanças, Francis Mer, e com o governador do Banco da França, Jean-Claude Trichet. “Não pensávamos que fôssemos logo conseguir bons resultados”, explicou o ministro, que também se entrevistou em Paris com dirigentes de empresas francesas, como a Carrefour e a Peugeot, e com diversos dirigentes de bancos, entre eles representantes da Société Générale e do Crédit Lyonnais.

“Nosso objetivo era poder falar em profundidade do que aparece como as principais preocupações atuais em relação ao Brasil: a dívida externa, a balança de pagamentos e as próximas eleições” de 6 de outubro, acrescentou.

“Observamos uma profunda compreensão” dos argumentos apresentados, acrescentou.

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