Buenos Aires
– Nem sempre crescimento econômico é sinônimo de bem-estar social. Segundo dados extra-oficiais, pela primeira vez desde 1998 a economia da Argentina registrou uma variação positiva entre 0,1% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. No entanto, o empobrecimento da classe média é cada vez maior.Para analistas, a atividade econômica está vivendo um veranito (veranico): a arrecadação está se recuperando, o dólar não supera a barreira dos 3,60 pesos há quatro meses e a temida hiperinflação não aconteceu. Mas esta levíssima recuperação pode ser interrompida, caso o país não obtenha a estabilidade política, condição para um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
– A indústria não cresce, mas também não afunda mais. O único setor que mostra sinais de recuperação é o agropecuário, beneficiado pelas exportações. Mas não esqueçamos que as vendas ao exterior representam apenas 10% do PIB argentino – diz Rafael Ber, consultor da Argentine Research.
Para a castigada classe média argentina, entretanto, a situação só piora. Entre outubro de 2001 e agosto deste ano, 5,2 milhões de pessoas empobreceram no país. O número de pobres chega a 19 milhões. A classe média hoje representa apenas 20% dos 36 milhões de habitantes do país.
As mesmas pessoas que, na era da conversibilidade (quando o peso estava atrelado ao dólar), viajavam para Miami e compravam imóveis e eletrodomésticos hoje fazem fila na porta de lojas de objetos usados para se desfazer dos bens adquiridos nos anos 90.