“Fomos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para diversificar (as fontes de financiamento)”, afirmou na tarde da última segunda-feira, 14, o chefe de gabinete de Mauricio Macri, Marcos Peña, número dois do governo argentino. Ao lado dos ministros da Fazenda, Nicolás Dujovne, e das Finanças, Luis Caputo, Peña minimizou a crise cambial na qual a Argentina mergulhou há duas semanas, que levou o governo a pedir um empréstimo ao Fundo, e disse que a medida havia sido tomado para consolidar a confiança do mercado.
Dujovne, entretanto, admitiu que as medidas implementadas para contornar a fuga de capitais – entre elas, a elevação da taxa básica de juros para 40% – farão com que o país cresça menos neste ano e que a inflação permaneça alta. “Sabemos que esse episódio de volatilidade e aumento dos juros vai ter algum impacto no crescimento, mas estamos convencidos de que o país crescerá neste ano”, disse.
O ministro da Fazenda acrescentou que ainda é cedo para quantificar esses impactos. As projeções oficiais iniciais eram de 3% de alta no PIB e de 15% de inflação. Economistas já falam em menos de 2% e em 25%, respectivamente.
Em entrevista convocada para tentar acalmar o mercado internacional, Luis Caputo acrescentou que o pedido ao FMI foi feito apenas para aumentar a liquidez no País e garantir que não faltem recursos no futuro. “Estamos fazendo isso preventivamente. Hoje, temos acesso a financiamentos com taxas similares às que seriam cobradas pelo Fundo. Estamos fazendo (recorrendo ao FMI) porque não sabemos o que pode acontecer nos mercados (no futuro).”
Peña, porém, afirmou que houve uma mudança no cenário “externo e interno” que elevou as exigências dos investidores para continuarem financiando o país. “A ida ao Fundo pode ajudar nessa negociação (com o mercado) e permite deixar claro que estamos comprometidos com o equilíbrio fiscal.”
Apesar de afirmar que haverá uma aceleração da “convergência do equilíbrio fiscal”, Peña disse que cortes dependem da aprovação do Orçamento de 2019 no Congresso. “Dentro dessa restrição, temos de construir um consenso. É preciso também desmistificar a ideia de que há um ajuste. Só podemos gastar o que temos de receitas.”
Autonomia
Os ministros afirmaram que não há interferência da Casa Rosada no Banco Central e que não houve erros na condução da política econômico do país – com exceção de uma meta de inflação muito ambiciosa no início do governo. Peña acrescentou que a situação atual da economia é “bem melhor” do que a de 2015. “De modo algum achamos que (a política adotada) não funcionou. Há dois anos e meio (quando Macri chegou à presidência), não se dizia que íamos estar onde estamos, crescendo há sete trimestres, com alta no investimento e queda no desemprego, nos falavam que ia demorar mais.”
Dujovne disse que não haverá mudança no programa econômico de Macri, que, desde o início, adotou uma linha moderada, sem ajustes fiscais drásticos. “Temos um programa muito definido: integração com a economia global, redução do déficit fiscal, luta contra a inflação pelo Banco Central. Isso não vai mudar. O que vamos fazer é acelerar o programa de convergência fiscal. Mas sempre atuando com pragmatismo e de forma que não se interrompa o processo de crescimento econômico.”
Questionado pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’ sobre como deverá vir esse crescimento e sobre a possibilidade de a taxa de juros travar a economia, Dujovne afirmou apenas que os investimentos seguirão ocorrendo. “Os investimento de longo prazo não param por causa de uma volatilidade cambial”, respondeu.
O ministro da Fazenda afirmou ainda que o consumo e as exportações deverão impulsionar o PIB. “Nossas exportações industriais estão crescendo forte porque retiramos as barreiras comerciais e também pelo bom desempenho da economia brasileira.”
Apesar dos esforços do governo, a moeda local continua perdendo valor – na segunda-feira, o dólar fechou cotado a 25,00 pesos, em um novo recorde.
Para entender:
Política gradual de Macri
Após uma fuga de capital, o presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou, na semana passada, ter pedido ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo não divulgou o valor da negociação, mas, segundo a imprensa local, seria em torno de US$ 30 bilhões.
Com dívida externa estimada em US$ 340 bilhões, a Argentina é muito vulnerável a turbulências internacionais e é o país que vem sendo mais prejudicado pela valorização do dólar, com as perspectivas de um aumento maior dos juros nos Estados Unidos – o que torna o mercado americano mais atraente aos investidores e afeta diretamente os países emergentes.
Além do cenário externo desfavorável, ajudaram a desencadear a crise no país a perda de credibilidade do Banco Central após o relaxamento da meta de inflação de 10% para 15% neste ano, a criação de um imposto sobre ganhos financeiros de investidores estrangeiros e a avaliação de que os déficits fiscal e corrente (que englobam comércio internacional de mercadorias e serviços, além de movimentação de rendas) continuam altos. O primeiro ficou em 6% do PIB no ano passado e o segundo em 4,8% do PIB.
Antes de recorrer ao FMI, Macri tentou segurar a cotação da moeda vendendo reservas internacionais, elevando os juros para 40%, em três altas em oito dias, e reduzindo a meta do déficit fiscal primário de 3,2% para 2,7% do PIB. O mercado, porém, continua volátil – o peso argentino já se desvalorizou 12% neste mês. O financiamento estrangeiro é essencial para a política econômica gradualista de Macri, que reduz de forma lenta os déficits do país. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.