O presidente Néstor Kirchner e sua esposa, a presidente eleita Cristina Fernández de Kirchner, avaliam a realização de um acordo com a Embraer e a fábrica estatal argentina Área Material Córdoba, a sucessora da antiga Fábrica Militar de Aviões, atualmente sob concessão da empresa aérea norte-americana Lockheed. Ontem, a ministra da Defesa, Nilda Garré, reuniu-se com Eduardo Munhoz de Campos, representante internacional da Embraer. O comunicado oficial do ministério indicou que ambos discutiram a possibilidade de "no futuro constituir algum tipo de sociedade para produzir de forma conjunta equipamento para a aviação militar e civil" entre a Embraer e a Aérea Material Córdoba.
O interesse em um acordo estratégico com a empresa brasileira foi sugerido pelo governo Kirchner em diversas ocasiões ao longo dos últimos meses. No próprio discurso de lançamento da campanha eleitoral, em julho, Cristina Kirchner citou a Embraer como modelo de negócios e desenvolvimento de tecnologia a ser admirado (foi a única empresa citada em todo o discurso).
As especulações sobre o acordo com a Embraer ficaram mais fortes em junho, quando a ministra Garré afirmou que o governo estava interessado em recuperar a fábrica de Córdoba "para um projeto produtivo regional". Os rumores sobre um eventual acordo aumentaram mais ainda quando em julho Cristina Kirchner citou a Embraer como um "modelo".
Nos últimos três anos a Argentina e o Brasil desenvolveram projetos de veículos militares para o Exército, entre eles, o veículo aerotransportável "Gaucho". Kirchner, em várias ocasiões afirmou que pretende recuperar a indústria bélica argentina, que no passado contava com um grande mercado para exportação no resto da região.
A fábrica de aviões de Córdoba foi fundada em 1927. Em 1995, quando foi privatizada pelo governo do então presidente Carlos Menem (1989-99) possuía 10 mil operários. A Lockheed ficou com a concessão da fábrica, que passou a dedicar-se a tarefas de manutenção, reparação e modernização de parte dos caças da Força Aérea argentina. A unidade foi reduzida a mil trabalhadores. Recentemente, venceu uma licitação para modernizar aviões da Marinha do Brasil.
Desde 1995 o contrato de concessão do Estado argentino com a Lockheed foi sempre renovado, mas no fim deste ano não seria. Outra opção que está em análise é um contrato por apenas dois anos. A idéia seria não encerrar de forma abrupta a concessão com a Lockheed. Neste caso, a fábrica passaria novamente ao Estado argentino em 2009.