Argentina acaba com o corralito

Buenos Aires

– A Argentina eliminará as restrições impostas desde dezembro de 2001 pelo governo sobre saques de dinheiro de contas bancárias. A afirmação foi feita ontem pelo ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna. “A partir de segunda-feira as restrições relacionadas a contas à vista serão totalmente suspensas. Isso significa que as contas correntes e as poupanças ficarão todas livres de qualquer restrição a seu uso”, disse Lavagna a jornalistas. O limite de retirada em dinheiro das contas correntes e das poupanças era de 2 mil pesos por mês. Lavagna disse que a medida libera cerca de 21 bilhões de pesos (algo em torno de US$ 5,9 bilhões).

Alguns depósitos bancários, que foram convertidos em contas de prazo fixo, continuarão congelados até no mínimo o próximo ano, disse ele. Uma corrida a quase um quarto do total dos depósitos no ano passado levou o governo a congelar bilhões de dólares nas contas para evitar que os bancos entrassem em colapso. Este ano o governo declarou moratória de parte de sua dívida pública US$ 104 bilhões e desvalorizou o peso. Nos últimos meses a economia tem se estabilizado e o governo prevê que o país se recupere em breve da recessão que já dura quatro anos.

No entanto, apesar de uma ligeira mudança no panorama econômico, o país continua em profunda crise social. A realidade é que, cansados, os argentinos estão desapontados com seu próprio país e não vislumbram possibilidades de que o país volte a ser o “paraíso” da classe média, pelo menos, nem a curto ou médio prazo. Segundo uma pesquisa da consultoria Mori Argentina, 30% dos argentinos desejam emigrar da Argentina. Na América Latina, este índice é somente inferior ao da Colômbia e da Nicarágua.

A pesquisa indica que 49% dos argentinos consideram que nos próximos 12 meses a crise econômica será “pior” ou “muito pior”. Mas tampouco existem esperanças de que a situação possa mudar radicalmente, para melhor, ao longo da próxima década. Segundo a Mori, 66% dos entrevistados acreditam que faltam 10 anos para que a Argentina volte a ser um país que ofereça boas condições de vida a seus habitantes. Ao olhar para o passado, os argentinos sentem saudades das décadas “douradas” da economia do país, quando a classe média predominava e a pobreza não passava de 7% da população, enquanto o desemprego somente atingia uma média de 6%. Por este motivo, 76% dos argentinos afirmam que seus pais tiveram uma vida econômica muito melhor do que a de seus filhos. Segundo a Mori Argentina, 95% dos argentinos desconfiam dos partidos políticos, 92% não confiam no governo, enquanto que o Congresso Nacional e a Justiça recebem o voto de desconfiança de 90% dos pesquisados.

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