Área plantada será menor na próxima safra

Foto: Arquivo/O Estado

Plantio será menor na próxima safra de verão.

Os agricultores brasileiros vão reduzir em 4 milhões de hectares a área de grãos que será cultivada na próxima safra de verão 2006/2007. A área equivale ao espaço que o Paraná reserva para o plantio de soja. O recuo recorde será de 9%, segundo cálculos da consultoria Agroconsult. É a maior redução de área de grãos, identificada pela consultoria, desde a safra 1995-1996, quando 3,4 milhões de hectares deixaram de ser cultivados, uma redução também de 9% na época.

Segundo André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, a maior queda em dez anos é parte do ajuste promovido pelos produtores depois de dois anos sucessivos de prejuízos na agricultura de grãos. Há, de acordo com o levantamento, dois tipos de área que serão abandonadas a partir de agora. A primeira é formada por áreas de pastagens que foram recuperadas e transformadas em campos de soja. No início da década, os bons lucros da sojicultura estimularam muitos produtores a aumentar a área plantada. A segunda, bem menor, é formada por áreas consideradas nobres, mas que não cabem mais no orçamento curto para custeio da próxima safra.

Renda

A perda de renda dos produtos de grãos nos últimos dois anos reduziu muito nesta safra a oferta de crédito privado para custeio. A Agroconsult tenta neste momento medir a dívida em aberto dos produtores com os fornecedores de insumos (sementes, defensivos e fertilizantes) e com as tradings. ?Até o final de maio e início de junho, a dívida dos produtores com os fornecedores estava próxima a R$ 7 bilhões. Talvez tenha caído um pouco, mas ainda é suficiente para reduzir a oferta de novo crédito de custeio?, explica Pessôa.

Segundo o sócio-diretor da Agroconsult, o mecanismo de refinanciamento proposto pelo governo (o FAT-Giro Rural) – recurso liberado pelo BNDES – ajudou parte dos produtores, mas apenas adiou o problema para o próximo ano. O setor de grãos enfrentou nos dois últimos ciclos agrícolas sucessivos problemas. Os mais relevantes foram o descompasso cambial (provocado pela compra de insumos com dólar mais elevado do que a taxa de câmbio no período da venda da produção), elevação dos custos agrícolas e queda da produtividade por motivos climáticos.

Soja

Os primeiros balanços mostraram que a produção de soja deverá recuar mais do que a de milho. Os primeiros dados colhidos em julho mostraram que a queda chegaria a 14,5%, redução de área de 22,1 milhões para 18,9 milhões de hectares. O principal problema estava no centro-oeste, especialmente no Estado de Mato Grosso. Novos dados, ainda não fechados, já indicam que a redução de área para o plantio de soja deve ser um pouco menor que o levantamento inicial. ?As indústrias de defensivos e fertilizantes amenizaram o corte de crédito e isso parece que estimulou a retomada de algumas áreas que seriam abandonadas?, explica Pessôa. Nos próximos dias, a consultoria deve divulgar o levantamento.

Por outro lado, a safra de milho deverá reduzir ainda mais, segundo a Agroconsult. No levantamento anterior, a redução de área atingia 4,8%, com redução de 9,41 milhões para 8,96 milhões de hectares. ?No caso do milho, o clima e o preço não estimulam o plantio?, diz Pessôa.

Mesmo com mudanças na posição anterior, a Agroconsult acredita que a redução de área para a próxima safra de verão continuará a ser a maior dos últimos anos. E isso deverá comprometer a produção de grãos. Segundo a consultoria, o Brasil deverá contabilizar 3,7% menos grãos na próxima safra. Em toneladas deverá cair de 100 milhões para 96,2 milhões.

Mapa quer mudar financiamentos

Brasília (AE) – O Ministério da Agricultura quer mudar o sistema de financiamento da produção agropecuária para interromper a sucessão de crises e pacotes bilionários de ajuda ao setor. ?Esse modelo de sempre correr atrás das crises está muito oneroso?, disse o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto.

Ele pretende deixar sobre a mesa um plano para o ano que vem em que privilegia instrumentos de mercado, como os Certificados de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA), como principais instrumentos para garantir a receita do campo. Ambos são títulos transacionados no mercado futuro.

?É preciso que o ministério tenha uma postura mais ativa, de privilegiar fortemente os mercados futuros?, disse. Na avaliação dele, até o momento o Ministério da Agricultura vem atuando de forma reativa às crises do setor, ou seja, corre para garantir recursos quando os agricultores já estão em dificuldades. ?Determinei à Secretaria de Política Agrícola que faça um estudo até o fim do ano, mostrando quanto têm custado ao governo essas crises?, disse.

Ele suspeita que elas tenham saído mais caro aos cofres públicos do que uma política mais estruturada, que atue antes de a crise ocorrer. ?Eu e o ex-ministro Roberto Rodrigues já conversamos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a esse respeito?, disse Guedes.

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