A menos de 5 horas de perder a validade, o Senado aprovou a Medida Provisória dos Portos, a MP 595/2012. Ao contrário das sessões que vararam a madrugada duas vezes na Câmara dos Deputados, e somaram 44 horas de discussão e votação, os senadores precisaram de apenas sete horas para confirmar o texto que veio da outra Casa Legislativa, sem alterações. A proposta, que recebeu 53 votos a favor, sete contra e cinco abstenções, agora segue para a presidente Dilma Rousseff, que deve fazer vetos às modificações feitas no Congresso Nacional.

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A MP tem sido vendida pelo governo como uma solução para modernizar o sistema portuário, abrindo a possibilidade de maior participação do setor privado nos investimentos.

Até o início da noite desta quinta-feira, 16, a base aliada deixou os senadores da oposição e os independentes se revezarem nos discursos em plenário, numa tentativa de inviabilizar a votação da proposta. Contudo, os líderes aliados decidiram asfixiar quaisquer manobras regimentais dos oposicionistas.

A primeira iniciativa partiu do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele rejeitou um pedido do líder do PSDB na Casa, Aloysio Nunes Ferreira (SP), que queria apresentar novas emendas para a votação. Renan negou-lhe o direito com o argumento de que regimentalmente a fase de apresentação de emendas já havia encerrado.

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Em seguida, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), deu o tiro fatal na tentativa da oposição de prolongar a discussão. Um requerimento dele propôs a rejeição em bloco dos nove destaques e emendas apresentadas pela oposição. Foi aprovado em votação simbólica. Eunício conversou ao telefone com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que lhe orientou a pedir a presença dos parlamentares. Três senadores do bloco liderado por ele, composto por 25 parlamentares, cancelaram o retorno aos seus Estados para participarem da votação. Antes mesmo da votação, o presidente do Democratas, senador Agripino Maia (RN), já admitia a derrota. “É uma sessão de cartas marcadas e já se sabe o resultado”, disse.

Em minoria, os oposicionistas também reconheceram reservadamente que o recurso ao Supremo Tribunal Federal para congelar a tramitação da MP dos Portos não tinha chances para prosperar. O presidente do Senado reclamou da judicialização da matéria, classificando-o como sobejamente ineficaz. O pedido de liminar da ação não foi sequer apreciada pelo ministro Celso de Mello, designado relator no Supremo.

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MP conhecida

Durante as discussões em plenário, os parlamentares reclamaram do pouco tempo para analisar a matéria. Apesar de ter orientado a bancada a favor da MP, o líder do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF), se disse profundamente constrangido em votá-la – o texto chegou ao Senado pouco antes das 10 horas da manhã. O senador Pedro Taques (PDT-MT) fez coro. “Não é possível votarmos uma fraude”, disse. A senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que o governo empurrou “goela abaixo” do Congresso a MP, que poderia ser mais discutida via projeto de lei.

O relator da MP na comissão mista, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), rebateu as críticas dos colegas que diziam não conhecer o texto que iriam votar. Segundo ele, a proposta só teve quatro alterações na Câmara. “Não me sinto de forma nenhuma constrangido em votar no dia de hoje (quinta-feira) o relatório que foi aprovado no dia 24 de abril de 2013 (na comissão)”, disse. “Esta matéria foi discutida, debatida, amplamente divulgada e teve a participação direta e indireta dos senhores parlamentares”, disse. “Encontramos um texto que, se não era o ideal, era o possível numa democracia.”

Para aplacar as críticas, Renan Calheiros anunciou na abertura da sessão que, a partir de agora, nenhuma MP será analisada se não chegar ao Senado com um prazo mínimo de sete dias. O senador Jarbas Vasconcelos (PE), independentemente do PMDB, rebateu-o, dizendo que não tinha “nenhum motivo” para acreditar na palavra do presidente do Senado e abandonou o plenário para não fazer, como disse, “papel de bobo”.