Não é ainda uma goleada, mas o Banco Central está ganhando o jogo que vem disputando com o mercado desde que sinalizou, lá em agosto, que o cenário externo justificaria o início de uma trajetória de redução de juros. É o que afirmam economistas consultados pela Agência Estado à luz de indicadores de atividade e, mais recentemente, da redução da inflação corrente e da expectativa para o fechamento do ano na meta, ainda que no teto, conforme mostrou a Pesquisa Focus.

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Na última segunda-feira, ao divulgar as medianas das expectativas dos analistas do mercado para o IPCA de 2011, o Banco Central confirmou o recuo da previsão de inflação de 6,52% – taxa ao redor da qual as projeções têm rodado desde setembro – para 6,50%. Trata-se de um leve recuo, de apenas 0,02 ponto porcentual, mas o suficiente para a autoridade monetária não se ver na obrigação, caso o número se confirme, de escrever uma carta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) no final do ano para justificar a inflação acima do teto da meta, que é de 6,50%.

Diante dos indicadores que comprovam a desaceleração econômica esperada pelo BC – em agosto a produção industrial caiu 0,20% na margem -, da desaceleração do ritmo de crescimento do crédito para Pessoa Física em setembro e da volta para a meta das expectativas de inflação, os analistas já admitem que o BC acertou lá atrás quando delineou o cenário em que a crise externa iria impactar a economia doméstica.

A economista-chefe do Royal Bank of Scotland (RBS), Zeina Latif, está entre os que reconhecem que o BC acertou no seu prognóstico. “O fato concreto é que o BC acertou mais que o mercado o cenário internacional e as suas implicações para a atividade doméstica”, diz a economista. Ela só acha cedo para dizer que o BC acertou totalmente na questão da inflação, mesmo com a redução recente das expectativas, porque ele nunca previu a inflação rompendo a meta e “isso ainda pode acontecer”. “De qualquer forma, a tendência é a Focus interromper a alta por hora”, diz Zeina, para quem a Focus tem limite para piora.

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Evidentemente, diz a economista, o IPCA-15 baixo – em outubro a inflação por este indicador foi de 0,42% ante 0,53% em setembro – influenciou positivamente o ligeiro recuo da mediana das expectativas de inflação para 2011. Isso, de acordo com a economista, ajuda a dinâmica inflacionária deste e do próximo ano. “Tem casas reduzindo expectativa de crescimento do PIB, o que ajuda a inflação”, diz.

No Banrisul, o economista Cássio Zimmermann, diz ter ainda um pouco de dúvida sobre a efetividade da queda da inflação, como prevê a Focus, porque, segundo ele, o cenário neste momento não é aquele que o mercado previa e nem o que o BC esperava. “Está no meio do caminho”, diz o economista do banco gaúcho. Todavia, ele não nega que o comportamento dos preços ao consumidor tem surpreendido os analistas do mercado. “Por enquanto, o BC está com a cabeça na lâmpada. As projeções estão apontando para uma inflação no teto da meta”, reitera Zimmermann. “Mas lá trás, o BC estava mais certo que o mercado sim”.

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O problema, de acordo com o economista do Banrisul, é que a convergência tem se dado de forma muito lenta. “Não que eu duvide do BC, mas faltam ainda alguns resultados. Mas se tiver que fazer um placar, diria que o BC está ganhando o jogo. Não é ainda uma goleada, mas está ganhando”, admite o economista. Zimmermann confessa que está inclinado a caminhar para o cenário do BC. “É nítido e natural que o BC tenha outras informações que nós não temos. Como ele acertou lá trás e mantém a trajetória da sua política monetária, é mais um indício de que ele está vendo mais piora no cenário externo”, avalia o economista.

O Banrisul trabalha com projeções de 6,50% para o IPCA no fechamento deste ano e de 5,40% no ano que vem. “Na projeção deste ano eu não mexo mais. Se tiver que mudar, reduzirei a projeção do IPCA para 2012”, diz.

O presidente e economista-chefe do Banco Ribeirão Preto (BRP), Nelson Rocha Augusto, diz não ter dúvidas de que o BC acertou e por uma razão muito simples: “As autoridades, quando estão imbuídas de propósitos corretos e têm mais informações que seus comandados, acabam acertando”, afirma.

Augusto lembra que naquela semana de agosto que antecedeu o primeiro corte de 0,50 ponto porcentual da Selic, que o mercado todo contestou, o presidente do BC, Alexandre Tombini, participou de várias reuniões presenciais na Europa com autoridades econômicas de todo o mundo. “Quando ele volta da Europa e induz os membros do Copom a votar um corte da Selic era porque ele tinha informações que nós não tínhamos. Eu não tenho a menor dúvida de que o Tombini estava correto e tomou a decisão correta”, diz o presidente do BRP, que trabalha com o IPCA fechando em 6,40% este ano.