A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estima que os financiamentos a imóveis fiquem estáveis em 2017, após dois anos seguidos de retração do segmento, impactado pela crise. A linha que utiliza recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) deve crescer 5% em 2017 ante o exercício anterior, conforme a entidade, enquanto que a que recorre aos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) deve encolher 1,5%, na mesma base de comparação.
Somadas, as linhas de FGTS, que sofreu menos com a crise, e SBPE devem alcançar R$ 112 bilhões em 2017, ante cerca de R$ 111 bilhões no ano passado. Em 2015, totalizaram R$ 129 bilhões e em 2014, R$ 157 bilhões.
No ano passado, os financiamentos que usam recursos das cadernetas de poupança somaram R$ 46,6 bilhões, montante 38,3% menor do que o registrado em 2015, de cerca de R$ 76 bilhões. Já o volume de unidades financiadas somou 199,7 mil imóveis em 2016, declínio de 41,5% ante 2015, quando foram registrados 341,5 mil unidades.
“O ano começou totalmente diferente, com os juros no longo prazo mais baixos. Os bancos já estão pagando menos para captar”, avalia o presidente da Abecip, Gilberto Duarte de Abreu.
Em dezembro, a tônica do financiamento imobiliário já foi outra. Foi o melhor resultado mensal de 2016, ao totalizar R$ 5,38 bilhões, montante 35,2% maior ante novembro. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, foi identificado aumento de 12,9%. No último mês do ano, foram financiados 20,4 mil imóveis para aquisição e construção, alta de 35,2% em relação a novembro (15,1 mil unidades). Em 12 meses, porém, houve queda de 6,8%.
O presidente da Abecip lembrou que o setor da construção foi um dos mais impactados pela crise e que o recuo do crédito imobiliário pesou no desempenho do segmento. Ponderou, contudo, que a queda dos juros contribui para o desempenho da poupança, que já encerrou 2016 em melhores condições. No ano passado, o saldo da caderneta subiu 1,3%, contra queda de 3% em 2015.
“Parece que já passamos pelo fundo do poço e estamos entrando em um novo momento. 2017 ainda é um ano de ajustes, com desemprego alto, mas com reação, mesmo que moderada”, concluiu Abreu.
Distratos
O presidente da Abecip afirmou que no nível atual os distratos têm potencial para comprometer o balanço de incorporadoras e, consequentemente, a entrega de imóveis a clientes que desejam ficar com as unidades adquiridas. A entidade defende, segundo ele, que haja penalização para os clientes que distratarem com base no preço do imóvel, limitado ao pagamento já efetuado.
Uma outra possibilidade, de acordo com Abreu, é a multa com relação ao que já foi pago. Entretanto, segundo ele, há custos incidentes na venda dos imóveis e que são todos ligados ao valor de imóvel. “Os distratos geram hoje uma situação em que o empreendimento não tem recursos para ser concluído e ainda por cima quem distrata gera saída de caixa da construtora, colocando em risco a saúde do mercado”, avaliou o presidente da Abecip.
Ele destacou que a não solução da questão dos distratos pode gerar esqueletos na cidade e que a regulamentação das vendas vai no sentido de tornar o setor mais saudável. Questionado se as regras valeriam para vendas antigas, o especialista disse que a dor dos distratos já foi sentida pelo mercado e que é preciso torná-las claras para as novas vendas.
“O mercado precisa ser sadio, de modo que as garantias sejam honradas e a equação financeira preservada. Temos de proteger a saúde financeira das incorporadoras. Do contrário, corremos o risco de criar um mercado arriscado e que os bancos não vão financiar ou vão financiar a preços mais caros”, acrescentou Abreu.
Recuperação judicial
O setor de construção e de incorporação de imóveis ainda pode ser palco de mais pedidos de recuperações judiciais neste ano, de acordo com Gilberto Duarte de Abreu. “Incorporadoras estão com dificuldade. As companhias que estão endividadas, com estoques e não estão conseguindo ter vendas líquidas, conseguem segurar essa realidade só por mais um tempo”, explicou ele.
De acordo com Abreu, o cenário fica ainda mais complicado quando a construtora tem dívida corporativa. Ele disse que o ano de 2017 não será tão diferente para empresas que enfrentam dificuldades em seus balanços. “Desde 2014, 2015, algumas companhias já estavam com seus balanços comprometidos. 2017 não será diferente do que foi 2016, mas os bancos estão trabalhando junto a dívidas de incorporadoras ou quem está passando por uma recuperação judicial”, acrescentou.
O presidente da Abecip ponderou, porém, que o mercado já pratica juros mais baixos como reflexo da Selic, o que tende a beneficiar o setor imobiliário. Segundo ele, as taxas para o crédito imobiliário já caíram cerca de 1 ponto porcentual desde que os juros começaram a cair.
Sobre a letra garantida imobiliária (LIG), ele disse que a Abecip e o mercado já fizeram a lição de casa e que aguardam a regulamentação por parte do Banco Central. Ele não precisou, contudo, um prazo para a divulgação. No entanto, destacou para a necessidade de uma maior redução dos juros.
“Mesmo com a regulamentação, com os juros atuais não teremos a LIG florescendo. Mas, no final de 2017, caso os juros caiam para 9,5%, será bastante interessante”, afirmou Abreu, acrescentando que a queda dos juros permitirá que a LIG, similar aos covered bonds, seja um instrumento não apenas local, mas também de captação externa.