Após quase 4 anos preso, Cacciola deixa presídio a pé

Trajando calça jeans e camiseta branca, com óculos de sol, semblante fechado e sem querer dar nenhuma palavra à imprensa que o esperava desde as 8 horas da manhã, o ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola atravessou os portões do Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro exatamente às 17h30 desta quinta-feira, depois de cumprir três anos e 11 meses de uma pena total de 13 anos. “Cacciola é o homem!”, bradou um garoto de aproximadamente oito anos que acompanhava a movimentação da imprensa no local ao longo de todo o dia, pouco antes de o advogado e o segurança do ex-banqueiro ajudarem a colocá-lo no carro que o levaria para casa.

Com a pena total reduzida a nove anos, será em casa que Cacciola vai cumprir o restante da pena de mais cinco anos, sendo obrigado a “bater ponto” na Justiça do Rio periodicamente e andar sempre com uma carteirinha de identificação como condenado. Não poderá sair do Rio sem autorização da Justiça e não pode deixar o País. “Mas não precisará usar tornozeleira como os demais presos em liberdade condicional”, disse seu advogado Manuel Jesus Soares.

Cacciola teve que sair a pé do Complexo Penitenciário de Gericinó por conta das exigências burocráticas do presídio. Tão logo foi cercado pelos jornalistas e fotógrafos que estavam no local, ele foi conduzido pelo advogado para dentro de um Fiesta Preto para ser levado para casa. Apesar do tumulto no local e das promessas dos que acompanharam durante todo o dia a espera por sua saída, não houve vaias e até um surpreendente “boa sorte, seu safado”, pôde ser ouvido em meio à multidão – formada por moradores próximos e por visitantes dos presos – que se aglomerou no local.

O ex-banqueiro, dono do banco Marka, falido no início de 1999, foi condenado por desvio de dinheiro público e gestão fraudulenta de instituição financeira. O Marka faliu com a maxidesvalorização do real, juntamente com o FonteCindam. Ambos apostaram na estabilidade do real, enquanto as demais instituições financeiras se prepararam para a alta do dólar. O banco tinha contratos de venda no mercado futuro de US$ 1,2 bilhão, valor igual a 20 vezes o seu patrimônio, todos apostando na estabilidade cambial. Com a desvalorização, Cacciola ficou sem poder honrar os compromissos e pediu ajuda ao Banco Central, usando de intermediário Luiz Bragança, amigo de Francisco Lopes, então presidente do Banco Central.

Alegando “risco sistêmico” – o perigo de uma quebra generalizada no sistema bancário – o BC ajudou os banqueiros a cobrir o rombo, vendendo dólares por cotação inferior à do mercado. A decisão foi bastante questionada e gerou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que concluiu que a operação de ajuda aos dois bancos causou prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.

Cacciola saiu do País dias depois de ter obtido um habeas corpus, concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello. Antes da decisão, o ex-banqueiro passara 37 dias detido na carceragem do Ponto Zero, em Benfica, no Rio. Cinco dias depois da libertação, o ministro Carlos Velloso, então presidente do Supremo, determinou o retorno de Cacciola à prisão. Mas, com cidadania italiana, o ex-dono do Marka já estava fora do País.

Procurado pela Polícia Federal e pela Interpol, Cacciola teve seu paradeiro descoberto em novembro de 2000 por uma emissora de TV. Na época ele chegou a declarar que não tinha intenção de voltar ao País e que havia fugido por rota que passou pelo Uruguai. Cacciola foi preso pela Interpol, em Mônaco, em setembro de 2007. Em 2008, o ex-banqueiro foi extraditado para o Brasil, onde voltou a cumprir pena até obter liberdade condicional no último dia 23 de agosto. Há o temor da Justiça de que Cacciola tente uma nova fuga.

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