Um dia depois de desembarcar em Brasília, retornando de Potsdam, na Alemanha, o chanceler Celso Amorim reservou o domingo para descansar e analisar a repercussão no Brasil do fracasso do encontro do G-4, que era importante para fazer avançar a Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro também se prepara para duas reuniões de cúpula em que o resultado de Potsdam pode dominar o debate.
No final desta semana, acontece em Assunção, no Paraguai, a reunião dos presidentes dos países membros do Mercosul. Os parceiros do bloco terão que avaliar a conveniência de partir para acordos bilaterais ou regionais para compensar o fracasso de Doha. Na semana seguinte, no dia 4 de julho, ocorrerá em Lisboa a primeira reunião de cúpula entre Brasil e União Européia. O encontro foi marcado para preparar as bases para a consagração do Brasil como futuro "parceiro estratégico" da UE.
Como há um consenso de que a Rodada Doha deve ficar em banho-maria, governo e especialistas acham que a saída é buscar esses acordos para abrir mercados. A negociação entre Mercosul e União Européia pode ser retomada, depois de ter sido engavetada em setembro de 2005 para esperar o resultado na OMC. Mas negociadores brasileiros admitem que os ganhos podem ser pontuais, focados em alguns setores.
O Mercosul já tem acordos com a União Aduaneira da África Austral (Sacu) e com a Índia e deve fechar acordos com Israel e com os países do golfo árabe. Além disso, o Brasil tem um acordo de cooperação econômica com o México. Um acordo entre Mercosul e Estados Unidos é considerado pouco provável. O Brasil defende uma negociação com o bloco sul-americano, mas os EUA preferem uma negociação bilateral, país a país.
Para o economista Edgard Pereira, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), ainda é cedo para descartar a possibilidade de algum avanço na Rodada Doha. "Ao que me parece está no ponto da virada. Alguém terá que ceder", avaliou.
Pereira enxerga como uma tática de negociação o endurecimento nas posições dos Estados Unidos e da União Européia para deixar Brasil e Índia em uma situação difícil com os outros países em desenvolvimento. "É uma situação delicada, mas acho que as negociações não estão encerradas", disse. O Iedi não fez ainda uma avaliação dos impactos da reunião de Potsdam no comércio exterior brasileiro.