Após terem ficado estáveis de 2013 para 2014, os investimentos em infraestrutura deverão tombar 19% neste ano. O principal motivo é o corte dos gastos públicos, por causa do ajuste fiscal. Segundo especialistas, a menos de dez dias do anúncio do novo pacote de concessões do governo federal, a projeção reforça a importância do capital privado para esses investimentos.

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Segundo estudo da consultoria Inter.B, a projeção para os aportes em infraestrutura neste ano é de R$ 105,7 bilhões, R$ 25,2 bilhões a menos do que em 2014. Com isso, o investimento no setor cairia para 1,78% do PIB, nível idêntico ao de 2007. Caso o número se confirmar, o País só terá tido resultado pior em 2003, quando o aporte em infraestrutura somou 1,46% do PIB. A série histórica da Inter.B foi iniciada em 2001.

Embora diversas empresas do setor sejam atingidas pelas investigações da Operação Lava Jato, o ajuste fiscal é o principal vilão em 2015, diz o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak. “O ajuste pega muito o investimento público”, afirma. A economista Luísa Azevedo, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), explica que os gastos de custeio, muitas vezes obrigatórios, são mais difíceis de cortar.

No primeiro trimestre, o investimento público da União, sem contar estatais, caiu 30%, para R$ 15,6 bilhões, segundo dados compilados pelo economista Mansueto Almeida em seu blog. Como o setor público responde por cerca de metade dos aportes no setor de transporte, ele é o mais afetado, explica Frischtak. No total, a Inter.B projeta queda 20,9% este ano, para R$ 42 bilhões. Em rodovias, o corte pode ser de 26,9%.

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Nem o apetite chinês por investimento em logística, sinalizado na recente visita do primeiro-ministro Li Keqiang, pode ser suficiente. Integrante da comitiva, Yu Weiping, vice-presidente da CNR, que fornece trens para o Metrô do Rio, foi reticente quanto a novos investimentos no País. Disse que tudo dependerá de novos projetos. É justamente este o problema, segundo a InterB., já que o investimento em mobilidade urbana deve cair 20,2%.

Outra forma de promover o investimento são as parcerias público-privadas (PPPs), diz Gustavo Gusmão, diretor da área de infraestrutura da consultoria Ernst & Young. O problema, segundo o consultor, é que a contrapartida dos governos nas PPPs também fica ameaçada com o ajuste fiscal. Para ele, novo modelo de concessões será uma sinalização importante sobre a possibilidade de êxito da estratégia de usar a infraestrutura para impulsionar o “pós-ajuste”. “O mercado quer notícias boas, mas quer ver as coisas na mesa.”

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As boas notícias precisarão mudar a impressão do Programa de Investimentos em Logística (PIL), lançado em 2012, que não cumpriu o prometido. Desde então, o empresariado vem citando o excesso de interferência do governo e a insegurança jurídica como entraves.

Isso vale também para o setor elétrico, cujo ponto alto de interferência foram as medidas de 2013 para reduzir o custo da energia, que provocaram desequilíbrios – parte delas está sendo revista, contribuindo para o reajuste da conta de luz no início do ano. A projeção da Inter.B é de um recuo de 9,3% no investimento em energia elétrica em 2015, para R$ 34 bilhões.