Os arranha-céus espelhados que surgiram na cidade de São Paulo nos últimos anos, marcando a nova arquitetura dos prédios comerciais em regiões como Faria Lima, Berrini e Vila Olímpia, começam a ganhar uma nova vizinhança. Os milhares de executivos do mercado financeiro, empresários, engenheiros e publicitários que deixam de 12 a 14 horas de suas vidas todos os dias nesses edifícios, estão se mudando para locais próximos de onde trabalham e, com isso, dando impulso ao mais novo modismo do mercado imobiliário: o de apartamentos compactos.
Embalado pela alta dos preços e pelo aumento do trânsito, este movimento tem se acentuado fortemente e mudou o perfil de lançamentos imobiliários na capital paulista nos últimos três anos. No primeiro semestre de 2013, 63% dos apartamentos vendidos tinham até 65 metros quadrados segundo dados do Secovi. Dados compilados pela Lopes Corretora mostram que esse porcentual chegou a 84% se forem considerados apartamentos até 89 metros quadrados. Em 2007, o número de lançamentos desse tipo não chegava a 55% do total.
A conta é simples. De acordo com João da Rocha Lima, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e consultor na Unitas Consultoria, o preço dos imóveis subiu 110% nesse período enquanto a renda das pessoas cresceu 26%. “Há quatro anos, quem conseguia comprar um apartamento de 122 metros quadrados agora só compra um de 78 metros quadrados.”
O preço, no entanto, não é a única variável dessa equação. É cada vez maior o número de profissionais que se mudam para perto do trabalho ou compram uma espécie de base avançada para passar a semana e não perder horas no trânsito. Foi justamente para economizar tempo que o vice-presidente de criação da agência de publicidade Fischer & Friends, Antônio da Costa Neto, decidiu morar na região do Itaim. Ele acabou de voltar de Miami para assumir o cargo na agência. “Levo sete minutos a pé até a agência”, diz.
Renda
Os compactos também estão na mira dos investidores. Um compacto de 42 metros quadrados na região da Avenida Paulista, vendido há um ano para o diretor comercial de uma empresa petrolífera por R$ 500 mil, rende R$ 3,8 mil por mês de aluguel ao executivo.
O presidente da Vitacon Imóveis, Alexandre Lafer Frankel, que está polemizando ao lançar compactos cada vez mais minis, diz que 35% de suas vendas são para investidores. Em três anos, a empresa lançou 32 empreendimentos, todos compactos, com serviço completo não só de lazer como também de limpeza. O próximo lançamento terá unidades de apenas 19 metros quadrados. “A redução de tamanhos não tem limite na minha opinião”, diz Frankel. “Por que não um apartamento de dez metros quadrados?” Ele faz questão de ressaltar que seus imóveis nada têm a ver com flats. “O condomínio é mais barato e a escolha do serviço é opcional, o morador só paga pelo que ele usa.”
A estratégia é lançar residenciais próximos a faculdades, hospitais, metrôs e principalmente nos eixos de prédios comerciais como os da Faria Lima, onde está concentrado um grande número de bancos de investimentos com perfil de profissionais que buscam estúdios ou apartamentos de um quarto. Outro ponto forte destes empreendimentos é que o entorno destas regiões começa a ter uma infraestrutura mais atraente, com cinemas, restaurantes, padarias e barzinhos.
O jovem Tiago de Oliveira, de 28 anos, que trabalha no mercado financeiro, conta que é justamente essa infraestrutura que o mantém no Itaim, apesar de trabalhar na Paulista. Tiago comprou o apartamento de 60 m² na região quando estudava no Ibmec, atual Insper, mas não quis se mudar. Conta com o fato de levar apenas 15 minutos para chegar ao trabalho, antes das 7h30. Mas já se ressente dos 40 minutos que leva para voltar para casa depois das 19h.
“Meu próximo apartamento, maior, será em Campinas, quando eu me casar daqui a dois anos”, diz ele. Como a família e a namorada estão em Campinas, Tiago passa apenas a semana em São Paulo. “Meu chefe está em situação parecida: tem família em Sorocaba e mora em um apartamento de 50 metros quadrados aqui em São Paulo.”
Ao privilegiar essas regiões mais valorizadas da cidade, os compactos têm o metro quadrado mais caro. Enquanto a média dos estoques, segundo a Lopes Corretora, está em torno de R$ 7,2 mil o metro quadrado (9% a mais do que no ano passado), alguns compactos que oferecem área de lazer completa e serviços são vendidos por R$ 13 mil o metro quadrado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.