Os investimentos no setor elétrico paulista não conseguem acompanhar o ritmo de crescimento do País, o que levou a rede a operar “no gargalo” e ajudou a colocar o Estado sob constante risco de apagão. A opinião é do professor doutor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) Edmilson Moutinho dos Santos. Ele aponta o envelhecimento dos equipamentos da rede e a concentração das chuvas como os fatores principais para a queda de luz, como a ocorrida no último dia 8, que afetou cerca de 2,5 milhões de pessoas.
De acordo com ele, o salto na economia brasileira nos últimos dois anos ficou além do ritmo dos investimentos realizados no sistema elétrico no Estado de São Paulo. “Os investimentos estão sendo feitos, mas não são suficientes. Não há infraestrutura que possa acompanhar esse ritmo de crescimento da economia”, afirma.
Santos acredita que a receita fundamental para aliviar a rede é buscar fontes alternativas de energia à elétrica. O professor da USP cita a utilização do gás natural no meio urbano em aparelhos que transformam eletricidade em calor, como ar-condicionado e chuveiro elétrico, que “têm um impacto muito pesado nas redes”, principalmente no horário de pico (17 horas às 20 horas).
Para ele, o consumidor deve ser estimulado por políticas públicas e tributárias a trocar os aparelhos elétricos pelos que funcionam a gás natural. “É necessário fazer com que o consumidor veja que o gás é uma solução”, afirma, ao destacar também a economia na conta de luz que esse combustível traz para as famílias.
A falta de atenção dos governos na última década quanto a alternativas para a energia elétrica é a maior reclamação do especialista. “O que pode ser acusado como erro de planejamento é a falta desse uso combinado de gás e eletricidade. Há pelo menos 10 anos falamos nisso e há 10 anos nada acontece”, diz. “Temos que ter uma visão global da energia na cidade”.
Manutenção
Santos destaca ainda como um fator para a ocorrência de apagões o grande tempo de serviço de boa parte dos equipamentos da rede elétrica. Santos diz que o Estado deve ter normas mais rígidas para a manutenção do sistema. Além disso, defende financiamento para a modernização do sistema e a implantação das chamadas “smart grids”, que permitem maior flexibilização no controle da rede e evita que o problema da queda de luz se espalhe por toda sua extensão. “Os apagões ocorrem ou por falha na transmissão e distribuição da energia ou por saturação de aparelhos ligados ao mesmo tempo”, diz.
A Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), que responde por praticamente toda a rede de transmissão de energia elétrica no Estado, afirma que investe R$ 105 milhões por ano em manutenção e modernização de equipamentos nas subestações – que conectam as linhas de transmissão e alteram os níveis de tensão da eletricidade para os consumidores. Afirma ainda, por meio da assessoria de imprensa, que gasta atualmente R$ 400 milhões na rede básica, como reforços e ampliações do sistema de transmissão.