O anúncio do governo boliviano de que não seria possível fornecer gás natural para a termelétrica de Cuiabá nem mesmo para o contrato que possui com a Comgás, paralelo ao da Petrobras, foi absorvido pelo mercado como "um fato já conhecido", comentou hoje o diretor da consultoria Gas Energy, Pedro Camarota, que atuava até bem pouco tempo à frente da Repsol na Bolívia.

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"Na prática este corte já havia sido feito. O anúncio não altera em nada, porque o fato já era conhecido", disse. Ele ressalvou, no entanto, que as ações da Comgás foram afetadas hoje na Bolsa muito mais pela ameaça de a Bolívia não conseguir cumprir em 2008 integralmente o contrato que possui com a Petrobras.

A Comgás comercializa hoje 14 milhões de metros cúbicos diários de gás natural, dos quais 8 milhões são provenientes do país vizinho. O contrato paralelo, firmado por sua controladora, a BG é de apenas 650 mil metros cúbicos por dia e já havia deixado de ser cumprido em setembro de 2007, época em que também foi cortado o volume entregue para a TermoCuiabá.

Com a térmica, a Bolívia possui contrato de fornecimento de 2,3 milhões de metros cúbicos, mas em setembro firmou novo acordo para entregar apenas 1,1 milhão, o que acabou também não sendo cumprido. "O que tem que ser avaliado é o nível de desespero da Argentina para garantir o seu mercado de gás e o quanto o Brasil poderá ser afetado por esta pressão", avaliou o consultor.

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Hoje, a Argentina possui contrato para receber 7,7 milhões de metros cúbicos, dos quais são entregues pela Bolívia apenas 4,6 milhões. Para 2009, o contrato entre os dois países prevê o aumento do volume para 16 milhões de metros cúbicos, dos quais 7 7 milhões são o mínimo que podem ser entregues.

"Não há a menor perspectiva deste contrato ser cumprido, porque a Bolívia já está no seu limite máximo de capacidade e não existem planos para aumentar a produção no curto prazo", disse, lembrando que este "aperto" se deu com o aumento no consumo no mercado interno boliviano, e também ao crescimento da demanda do Brasil, que hoje recebe o volume total contratado de 31 milhões de metros cúbicos diários.

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Com isso, afirma o analista, a Bolívia soma um déficit total hoje de dois milhões de metros cúbicos, considerando a entrega mínima para a Argentina e o corte já realizado para Comgás e TermoCuiabá. "Isso significa dizer que, qualquer parada para manutenção ou algum manifesto popular na Bolívia, deverá haver uma nova redução do volume enviado para o Brasil, como já aconteceu no ano passado", comentou.