Antônio Ermírio diz que o problema são os EUA

São Paulo (AE) – Nem Lula, nem dólar, nem dívida interna. A grande ameaça para o Brasil é o descontrole econômico nos Estados Unidos. O gigante está com as pernas bambas e, se despencar, o tombo será feio, para todo mundo. O resto é picuinha. Em resumo, esta é a opinião do empresário Antônio Ermírio de Moraes, sobre os problemas de mercado no Brasil.

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim, disse ontem que o grande risco que o Brasil enfrenta no momento é o da “situação do Hemisfério Norte”. Segundo ele, o descontrole econômico é muito grande nos Estados Unidos, onde a poupança está concentrada no mercado acionário, que não pára de se desvalorizar. “Se a situação nos EUA continuar dessa forma, teremos um novo 29 (crash da bolsa de 1929). Este é o grande risco que temos no momento.” Isso porque explicou, se os EUA pararem de importar, a Alemanha quebraria e o Japão também quebraria imediatamente a seguir.

Ermírio de Moraes disse que não concorda com a avaliação que vem sendo feita do risco País. Segundo ele, “o pessoal que analisa o Brasil está muito longe daqui. Gostaria que estivessem mais perto e tratassem do assunto com mais realidade.” Perguntado sobre se prefere Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou José Serra (PSDB), o empresário disse que não se assusta com nenhum deles. “Quem fica assustado com eleições é curto de cabeça”, provocou. Ele defendeu que a atual especulação financeira seja combatida com energia, mas disse que, toda vez que o governo interfere, “faz mal”.

Por outro lado, os analistas são unânimes ao afirmar: o mercado só vai alterar a percepção negativa que predomina o ambiente dos negócios quando houver confiança no futuro. E essa confiança só virá a partir de um cenário político doméstico mais claro e, em segundo plano, dos desdobramentos das incertezas externas que vêm afetando a confiança dos investidores globais, sobretudo em relação à economia norte-americana. Leia-se: a volatilidade e o nervosismo devem prevalecer por mais alguns meses.

“Há uma combinação de tudo afetando o mercado, mas a incerteza principal é a mesma de sempre: a eleitoral. Há uma grande ansiedade no mercado sobre esse tema e o que estamos vendo é uma clara reação antecipatória”, comenta o economista chefe do BBV Banco, Octavio de Barros. “As dúvidas externas só vêm amplificando essa incerteza local, que nada tem a ver com dinâmicas estruturais da economia.”

Ontem, o dólar comercial caiu levemente. A moeda norte-americana encerrou os negócios cotada a R$ 2,892 para venda (compra a R$ 2,888) pela taxa do Banco Central, uma queda de 0,28% em relação ao fechamento de segunda, que foi recorde da história do real (R$ 2,90). O dólar chegou a ser vendido por R$ 2,93 pela manhã.

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