Ansiedade eleitoral faz dólar bater novo recorde

São Paulo

– O dólar encerrou em forte alta nesta segunda-feira e bateu o recorde do Plano Real, com o mercado tomado pela ansiedade em torno da corrida eleitoral. Segundo operadores, o cenário externo bastante desfavorável também causou apreensão entre os investidores. O dólar fechou vendido a R$ 3,570 com uma alta de 4,99%. Ultrapassou em 10 centavos a cotação mais alta até então, de R$ 3,470 por dólar, registrada no fechamento de 31 de julho passado. No ano, a alta da moeda já chega a 54,21%. Só neste mês o dólar avançou 18,60%.

“O mercado esteve bastante pressionado mas com um volume bem pequeno de negócios. Basicamente, a pressão foi em função do cenário político e externo”, comentou Júlio César Vogeler, operador de câmbio da Bittencourt Corretora.

O risco-país brasileiro subiu 10,57% e chegou ontem a 2.186 pontos. O C-Bond, título da dívida externa brasileira mais negociado no exterior, chegou a ser negociado a 51% de seu valor de face. Isso significa que o papel brasileiro, que promete pagamento de US$ 100 o lote, está sendo negociado com quase 50% de desconto. Ou seja, a US$ 51 o lote.

Na Bovespa, a baixa foi de -4,67%, com 9.137 pontos, abaixo do nível de março de 1999, dois meses após a desvalorização do real (veja reportagem nesta página).

“Sem negócios”

“Não tem volume, não tem negócio, não tem nada. O telefone não toca, o cliente não liga para fechar [negócio de] câmbio??, afirmou Miriam Tavares, diretora da corretora AGK. O real paga caro a crise financeira brasileira, com uma desvalorização de 35,5% no ano e de 15,7% em setembro.

O Banco Central interveio no mercado vendendo dólares à vista e com a venda de linhas de financiamento à exportação no total de US$ 48,8 milhões, mas as ações não tiveram efeito. Segundo operadores, a intervenção no câmbio à vista, confirmada pelo BC, ocorreu por volta das 15h30, quando o dólar chegou a recuar um pouco para R$ 3,53.

Nos últimos dias, a autoridade monetária tem intervindo de forma diferente no câmbio, vendendo por meio de uma única instituição ao invés de pulverizar os recursos, o que faz com que a venda passe despercebida.

Pesquisa e dívida

O mercado reestuda suas posições após a divulgação no domingo de mais uma pesquisa eleitoral, que indica avanço da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em direção a uma vitória já no primeiro turno e avalia a possibilidade de manutenção da atual política econômica, sempre de olho na relação do País com investidores e organismos financeiros estrangeiros, no caso de vitória de um candidato de oposição.

O Datafolha divulgou no fim da tarde de sábado estudo em que Lula aparece com 48% dos votos válidos, ou a apenas dois pontos e um voto de vencer a eleição no primeiro turno, após uma semana de ataques cerrados por parte de seu adversário mais próximo, José Serra (PSDB). A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

Outro fator a se ressaltar é o vencimento, amanhã (25) de uma dívida de US$ 1,52 bilhão em contratos cambiais (??swap??) que o governo optou por não rolar. Essa dívida será resgatada em reais na manhã de quarta-feira, de acordo com o valor de fechamento da média do dólar compilada hoje pelo Banco Central (Ptax).

Quanto mais alto estiver o dólar hoje, mais as instituições que têm a receber lucrarão.

Bovespa fecha em queda de 3,35%

O resultado da pesquisa Datafolha derrubou ontem a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que fechou em queda de 3,35%. O principal índice do mercado paulista abriu desabando, operou o pregão inteiro em baixa e encerrou aos 9.264 pontos, menor patamar desde 29 de julho último. Com a mínima de 9.137 pontos (-4,67%), o índice atingiu o menor nível desde 2 de março de 1999, pós-desvalorização do real.

A subida de quatro pontos de Luiz Inácio Lula da Silva, para 44%, divulgada no último sábado, elevou a chance de vitória petista no primeiro turno no dia 6 de outubro. Confirmada essa tendência hoje em nova pesquisa do Ibope, o nervosismo do mercado poderá se acentuar ainda mais, segundo previsões de operadores.

Com o pregão de ontem, o Ibovespa acumula queda de 10,7% no mês e de 31,76% no ano. Os negócios somaram R$ 358,589 milhões, abaixo da média do mês.

A disparada do dólar comercial e do risco-país e a desvalorização dos títulos da dívida brasileira no exterior contaminaram o humor no mercado acionário paulista. Só escaparam do pessimismo as ações consideradas blindadas contra uma crise financeira, de exportadoras, como Vale do Rio Doce, Aracruz e Souza Cruz.

Houve saída de recursos de investidores estrangeiros da bolsa paulista, que só divulga amanhã o saldo de saques nos 20 primeiros dias do mês.

Bancos divulgaram relatórios comentando que a estratégia de José Serra (PSDB), o candidato do governo e o preferido do mercado, de atacar Lula, fracassou. “As pesquisas apontam para uma estagnação de Serra e um aumento significativo do seu índice de rejeição. O cenário eleitoral segue indefinido, mas o tempo está correndo a favor de Lula”, disse o HSBC.

Para piorar, o mercado internacional teve um desempenho negativo. As bolsas européias fecharam em baixa. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 1,4%, enquanto a bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 2,9%.

Peso e real se igualam em valor

São Paulo

(AE) – Quase nove meses depois de a Argentina ter desvalorizado a sua moeda e pouco mais de três anos e nove meses de o Brasil ter feito o mesmo, o peso argentino e o real ficaram ontem (segunda-feira) com o mesmo valor em relação ao dólar. De acordo com dados oficiais do Banco Central argentino, a moeda norte-americana estava cotada nesta segunda-feira a 3,53 pesos para compra e 3,61 pesos para venda, sem variação em relação ao fechamento de sexta-feira. Com a alta de quase 4,41% por volta de meio-dia (horário de Brasília), o dólar comercial no Brasil estava em 3,555 reais, tanto para compra como para venda.

A diferença entre as duas moedas é que, no Brasil, o real abriu sob forte pressão por causa, entre outros fatores, das últimas pesquisas eleitorais que mostram o favoritismo do candidato do PT, Luiz Inácio lula da Silva. Na Argentina, apesar dos compromissos que precisam ser honrados este mês com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aos quais precisa transferir US$ 339 milhões para evitar default, a moeda permanecia estável.

Existem também diferenças em relação aos recursos disponíveis para honrar compromissos. Enquanto o Brasil recebeu dinheiro fresco do Fundo para segurar a pressão sobre o real, a Argentina não recebeu um tostão sequer dos organismos multilaterais de financiamento. Pior, as reservas internacionais argentinas, que estão no patamar de US$ 9,47 bilhões, não podem ficar abaixo de US$ 9 bilhões, compromisso do governo nas negociações que a Argentina vem mantendo com o FMI.

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