Além de produtores e distribuidoras, o mercado interno de etanol (álcool combustível) deve ter, em breve, as figuras de uma empresa comercializadora e também de um agente que terá instrumentos para facilitar a entrada do setor de etanol nas bolsas de futuros. As duas serão criadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para tentar dar mais liquidez e evitar as variações bruscas no preço do combustível, por meio do controle de oferta. A proposta, pedido antigo dos usineiros, consta numa resolução da ANP avaliada hoje em audiência pública na agência reguladora, no Rio de Janeiro, e que caminha para ser autorizada.
Pela proposta, a empresa comercializadora será mantida por um grupo de usinas e por ser uma companhia nova, sem endividamento, teria mais facilidade de fazer empréstimos e participar de operações de warrantagem do governo federal. Com isso, poderá financiar os estoques de álcool, principalmente no início da safra, quando várias unidades vendem o combustível abaixo do custo para fazer capital de giro, o que derruba os preços.
Um dos exemplos já prontos dessa empresa comercializadora e que deve ser a primeira beneficiada pela mudança nas regras é a Copersucar S.A., companhia que nasceu da Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool (Copersucar). A cooperativa só podia comercializar o álcool das associadas, mas a S.A. criada em julho, surgiu justamente para operar na comercialização e estocagem de álcool de outros produtores além dos cooperados.
“O pedido prevê que as companhias do setor se juntem e criem empresas de comercialização para enxugar o álcool do mercado. São empresas que estão mais capitalizadas, têm mais acesso a programas de warrantagem, e podem retornar o álcool na entressafra, num processo que estabilizaria o preço”, disse Marcos Jank, o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), uma das defensoras da resolução.
Jank negou que a intenção do setor seja pelo ressurgimento da Brasil Álcool, empresa criada pelos usineiros em 1999 para centralizar o estoque e venda do combustível, mas que foi extinta em 2002 após a investigação de cartel pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “O que houve no passado era um modelo para que todo o álcool migrasse para uma só empresa e um grande estoque. Nesse caso o que surge é uma opção, com poucas empresas, e com a maior parte do álcool ainda comercializadas pelas usinas”, avaliou o executivo.