Ano ficará marcado pela recuperação do agronegócio

2007 deve ficar marcado como o ano da recuperação do agronegócio paranaense, principal setor econômico do Estado, que responde por 55% do PIB – soma de todos os produtos e serviços produzidos ao longo do ano. Depois de dois anos seguidos de crise – efeito da forte estiagem que quebrou a safra, dos preços agrícolas baixos e da questão cambial, que prejudicou as exportações – a agricultura finalmente começou a dar mostras de que pode superar os prejuízos acumulados em 2005 e 2006.

?A agricultura é o segmento que mais sentiu os efeitos do aumento da renda em 2007. Depois de dois anos ruins, 2007 apresentou outro cenário, com a recuperação dos preços tanto no mercado interno quanto no externo?, apontou o economista Cid Cordeiro, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, regional Paraná (Dieese-PR).

No sistema cooperativista, os sinais de recuperação são claros. Segundo estimativa do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), o setor deve encerrar 2007 com faturamento de R$ 18,5 bilhões – cerca de R$ 16 bilhões no agronegócio -, volume 12% maior do que o registrado no ano passado. ?Foi um ano bom, principalmente se considerarmos que em 2005 e 2006 houve perda de 13 milhões de toneladas de grãos em função da estiagem. 2007 foi de fato o ano de recuperação?, afirmou o presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski. Segundo ele, o movimento de R$ 18,5 bilhões este ano é o maior dos últimos dez anos.

O crescimento do faturamento, segundo Koslovski, deve-se à recuperação dos preços das commodities e ao maior volume de produtos com valor agregado. ?Se dependesse só das exportações, haveria dificuldades em função do câmbio?, explicou. Outro fator que mostra o otimismo do setor é o aumento dos investimentos, que passaram de R$ 852,9 milhões no ano passado para R$ 1,028 bilhão este ano – incremento de 20,5%. ?Nossa projeção era investir, entre 2005 e 2010, R$ 3,5 bilhões, mas devemos superar este volume?, comentou Koslovski. Até 2007, o volume investido é de R$ 2,5 bilhões. Em 2008, deverá ser outro R$ 1,5 bilhão.

De acordo com Koslovski, a maior preocupação das cooperativas é agregar valor aos produtos. ?A flutuação de preços dos produtos nas prateleiras é bem menor do que aqueles in natura?, comentou. Do total investido pelo setor, 70% vai para industrialização e 30% para a infra-estrutura.

Outro avanço importante foi o das exportações, que passaram de US$ 852,90 milhões no ano passado para US$ 1,1 bilhão em 2007, ou seja, aumento de 29%. ?Hoje exportamos mais de 45 produtos para 70 países?, destacou Koslovski.

Para 2008, a expectativa do sistema de cooperativas é aumentar o faturamento em 10%. ?A agricultura é uma indústria de céu aberto. Se os preços atuais se mantiverem e o clima ajudar, devemos chegar a R$ 20 bilhões?, apontou.

Dívidas

Menos otimista, o assessor especial da diretoria da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Carlos Augusto Albuquerque, avalia 2007 como ?relativamente bom?. ?Não foi resolvido o problema das dívidas de 2004 a 2006. O governo ainda está estudando o alongamento, jogando o problema para frente?, criticou. A estimativa é que os produtores rurais paranaenses acumulam dívida de aproximadamente R$ 10 bilhões das duas últimas safras.

Nem a alta dos preços agrícolas – que, acredita Albuquerque, deve ser mantida em 2008 – é motivo de comemoração. ?A recuperação dos preços aconteceu independentemente da vontade do governo brasileiro. Aliás, o governo não só não ajuda o setor, como prejudica com a atual política cambial?, criticou. 

Paraná mantém liderança na produção de grãos

Com uma produção superior a 29 milhões de toneladas, o Paraná manteve a liderança nacional na produção de grãos em 2007, segundo último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estado é responsável por 21,8% da produção nacional de grãos, avaliada em 137,3 milhões de toneladas. A seguir vêm o Rio Grande do Sul, com 24,4 milhões de toneladas (18,4%); Mato Grosso, com 23,9 milhões de toneladas (17,9%); Goiás, com 11,1 milhões de toneladas (8,4%); Minas Gerais, com 9,4 milhões (7,1%); Mato Grosso do Sul, com 8,3 milhões (6,3%), e São Paulo, com 6,3 milhões de toneladas (4,7%).

O Paraná sozinho produz mais grãos do que as regiões Sudeste e Nordeste, que juntas produzem cerca de 26 milhões de toneladas. Entre as principais culturas, destaque para a cana-de-açúcar – que teve sua produção incrementada em 45% na comparação com 2006 -, o milho (crescimento de 25%) e a soja (27%). A área plantada este ano foi de 8,3 milhões de hectares, ou seja, 18,3% da área total do país, contra 7,7 milhões de Mato Grosso (17,1%) e Rio Grande do Sul, com 7,3 milhões (16,1%).

De acordo com o IBGE, a produção de grãos nacional para 2008 é estimada em 137,3 milhões de toneladas, um crescimento de 3,1% em relação a 2007, cuja safra deve fechar o ano em 133,1 milhões, estabelecendo-se um novo recorde, suplantando a safra de 2003, quando foram colhidas 123,6 milhões de toneladas.

Mais abate de suínos e aves

A suinocultura e o setor avícola devem registrar em 2008 aumento no volume de abates no Paraná. Já na pecuária, as expectativas não são tão positivas: o setor, que já está registrando carência de animais para abate, pode sofrer os efeitos do aumento de exigências por parte da União Européia e ter as exportações reduzidas no ano que vem. Em linhas gerais, é este o cenário previsto pelo assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes no Paraná (Sindicarne-PR), Gustavo Fanaya.

Segundo Fanaya, desde o início do ano a saca de milho já subiu 58% e a soja, 42%. A alta nos preços dos insumos já está refletindo no preço especialmente do suíno, porém não na mesma proporção. No Paraná, o preço do suíno vivo subiu 45% desde janeiro. ?A questão é que o milho representa 70% da ração de suínos. O preço (do suíno) esteve baixo durante o ano todo; só nos últimos meses houve uma recuperação?, apontou. Entre janeiro e novembro deste ano, o Paraná abateu 3,810 milhões de cabeças de suínos, e a previsão é encerrar o ano com 4,150 milhões – volume 9% maior do que o mesmo período do ano passado. ?No ano que vem, esse volume deve ser superado?, prevê Fanaya. A abertura do mercado russo contribui para este cenário favorável.

Outro setor que sofre, e com maior intensidade, os efeitos da alta do milho é o avícola. Puxado principalmente pelo mercado externo, o setor registrou este ano, de janeiro a novembro, abate de 1,027 bilhão de unidades, devendo fechar o ano em 1,125 bilhão – volume 10,5% maior do que o ano passado. ?A tendência é que esse número continue crescendo?, destacou.

No sentido contrário, a pecuária de corte deve encerrar o ano com queda de quase 10% no número de abates na comparação com 2006: cerca de 1,150 milhão de cabeças este ano contra 1,270 milhão no ano passado. Segundo Fanaya, para 2008 não há expectativa de reversão. ?Acho que não haverá número de animais suficiente. Na melhor das hipóteses, os números vão se repetir?, comentou. (LS)

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