A decisão do governo de retomar o projeto de construção de Angra 3 põe o Brasil na nova onda de expansão de usinas nucleares desencadeada no mundo. Estudo recente do Instituto de Engenharia (IE) de São Paulo mostra que hoje existem 30 unidades em construção, 74 planejadas e 182 propostas, que representam 255 mil megawatts elétricos (MWe).
"Durante algum tempo houve uma demonização da energia nuclear, mas é uma opção a outras fontes mais poluentes", afirma o diretor do IE, Miracyr Marcato, responsável pelo trabalho. "A quem vamos recorrer quando faltar energia?", perguntou ele. Ele se refere ao movimento antinuclear que levou ao abandono da opção pela energia nuclear na Itália, na Alemanha e em outros países industrializados. Mas, destaca ele, esses países continuam dependentes da energia nuclear. "A Itália, por exemplo deixou de expandir seu parque, mas importa energia da Suíça e da França, onde a produção é nuclear.
Segundo o levantamento do instituto, os países com maior número de usinas em construção são os emergentes com taxas elevadas de crescimento. A Índia tem seis usinas de 2.976 MWe, a Rússia, cinco de 2.720 MWe, e a China, quatro de 3.170 MWe. Juntos esses países têm 35 unidades planejadas para construção.
No Brasil, além de Angra 3, há propostas de outras quatro unidades, diz Marcato. Na avaliação dele, a energia nuclear vai contribuir para dar maior confiabilidade ao sistema elétrico nacional, cuja produção é predominantemente hídrica e tem grande dependência das chuvas. Além disso, Angra 3 vai dar algum fôlego ao governo, que não tem conseguido contornar com agilidade as questões ambientais na construção de grandes hidrelétricas, como o Complexo do Rio Madeira e Belo Monte.