Ela cresceu num ambiente austero. Se pai era pastor luterano, justamente no bloco comunista. Os exageros não eram apenas pecado, mas praticamente um crime. Foi nesse contexto que Angela Merkel, chanceler alemã, passou sua juventude e parte de sua vida de adulta.

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Nesta semana, foi ela quem deu o tom da nova fase de integração da UE, e seu modelo não poderia ter sido outro: forçar países a ter em suas constituições a exigência por equilíbrio fiscal.

Seus críticos alegam que ela não tem nada de estadista. Não tem carisma e nem desenvoltura para falar em público. Passou meses sem um plano para salvar a Europa, sempre fazendo seus cálculos a partir dos resultados de eleições locais em seu país. Para seus inimigos em todo o continente, Merkel forçou a máquina negociadora até seu extremo.

Mas, ainda assim, ela corre o risco de entrar para a história como a mulher que, em uma madrugada fria de dezembro em Bruxelas, moldou a nova União Europeia à sua imagem.

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Merkel já havia entrado para a história como a primeira chanceler da Alemanha. Pode não ter o charme de grandes líderes. Mas não chegou ao cargo por acaso. Depois de viver na Alemanha Oriental 35 de seus 57 anos, a engenheira física mostrou extremo oportunismo político. O ex-chanceler Helmut Kohl precisava de uma mulher, e da parte oriental, para mostrar que seu governo, após a reunificação, era mesmo um governo nacional. A escolhida foi Merkel, que ocupou o ministério de Mulheres e Juventude e depois assumiu o Ministério do Meio Ambiente.

O que Kohl não sabia era que havia trazido para dentro de seu partido sua própria inimiga. Enquanto o partido era assolado por escândalos de corrupção no final dos anos 90, Merkel surpreendeu a todos ao publicar um artigo num jornal alemão alertando que havia chegado o momento para a liderança do partido ser renovada. A Mädchen (a garota, como Kohl a chamava), havia dado seu golpe.

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Menos de dez anos depois de sair do bloco comunista, já era a secretária-geral do principal partido alemão e, em 2000, sua líder. Mesmo quando seu cargo estava ameaçado, deu sinais mais uma vez de oportunismo. Costurou alianças com partidos e se manteve na direção do país.

Na cena europeia, ela desperta tanto admiração quanto irritação. Para muitos, pacotes de resgate para a Grécia foram baseados no que o eleitorado em um algum Estado alemão pensava antes da votação, e não na necessidade da Europa. Outros a acusam de ter tentado ganhar tempo por meses, esperando que a crise fosse superada.

Já os mais cínicos acusam Merkel de ter se aproveitado da explosão de incerteza na periferia da Europa. Afinal, investidores foram obrigados a abandonar os papéis da dívida de Itália e Espanha, migrando para os do tesouro alemão. Nas últimas emissões, a Alemanha conseguiu se financiar basicamente de graça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.