Os altos custos de capital e de mão de obra no Brasil estão entre os principais fatores que prejudicam a competitividade da indústria automotiva brasileira em relação a outros países. De acordo com estudo apresentado hoje pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a mão de obra no setor no Brasil, incluindo encargos, custa 5,3 euros por hora, enquanto no México o custo é de 2,6 euros por hora, na China, de 1,3 euro por hora, e na Índia, de 1,2 euro por hora. A taxa básica de juros real (descontada a inflação) é de 5,5% no Brasil, 1,1% no México e 1,0% na China, sendo que em países como Japão, Coreia, EUA, Índia, Estados Unidos e na própria Europa essa taxa é negativa.

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“Além disso, somos afetados por externalidades, como o câmbio”, afirmou Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, que apresentou o estudo à imprensa. “Enquanto o dólar se desvalorizou frente ao real, na comparação com a moeda mexicana e a coreana o dólar se valorizou, o que beneficia a exportação de automóveis desses países”, disse.

De acordo com o levantamento, elaborado pela PricewaterhouseCoopers e apresentado pela Anfavea ao governo há cerca de 15 dias, os custos totais da cadeia automotiva no Brasil chegam a ser 60% maiores do que em outros países. Se na China um custo hipotético na indústria automotiva é de US$ 100, por exemplo, no Brasil é de US$ 160, no México é de US$ 120 e na Índia, de US$ 105 (considerando produtos equivalentes).

Inovação

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A indústria automotiva brasileira acredita que poderá reverter o atual déficit da balança comercial do setor até 2015 ou 2016 caso a nova política industrial do governo – que deve ser apresentada em julho – contemple iniciativas que estimulem a inovação. “Em 2010, o saldo foi negativo em US$ 6 bilhões, sendo que em 2006 tínhamos chegado a um superávit de US$ 9,6 bilhões. O setor automotivo representou 60% da redução do saldo comercial brasileiro entre 2006 e 2010”, afirmou Cledorvino Belini, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“Sem inovações disruptivas, isso não será possível. As últimas verdadeiras inovações disruptivas que tivemos no nosso setor foram a criação do etanol e do carro flex”, disse. Segundo ele, o Brasil investe apenas cerca de 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, enquanto na China esse número é de 1,5%, nos Estados Unidos é de 2,7% e na Coreia e no Japão chega a 3,5%.

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Belini disse que o estudo foi bem recebido pelo governo e que um grupo multidisciplinar, que inclui, por exemplo, integrantes dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), da Fazenda e da Ciência e Tecnologia, está estudando a questão.

Na opinião dele, se não forem feitos investimentos em inovação, o País continuará importando cada vez mais. A Anfavea estima que este ano serão comercializados 3,69 milhões de automóveis no Brasil, mas que até 2020 esse número pode chegar a 6 milhões. “Mercado nós temos. Mas se não fizermos nada, estaremos criando mercado para ser abastecido por veículos de fora”, afirmou.

De acordo com números divulgados pela Anfavea, enquanto as vendas de veículos no Brasil cresceram 115% desde 2005, a produção cresceu num ritmo bem menor, 45%. Ou seja, essa diferença foi suprida pela importação de veículos, que passou de 88 mil unidades em 2005 para mais de 660 mil no ano passado e deve chegar a 850 mil este ano.