É consenso entre os analistas de bancos que, em 2003, a inflação não ficará nos 4%, que são o centro da meta acertada no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma inevitável elevação das tarifas fará o aumento de preços ultrapassar o teto do acordo, de 6,5%. E até passar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ? taxa que orienta o sistema de metas de inflação do governo ? deste ano.
As previsões vão de 6% a 8% em 2003, enquanto, para este ano são de 6,5%. Independentemente de quem seja o próximo presidente, a valorização do dólar ? 59,25% este ano ? já contaminou os preços do ano que vem, segundo os especialistas.
Há uma parcela grande dos preços que carregam os efeitos do câmbio, parcela essa que não é controlada pela política monetária. São os preços administrados ? explicou Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Os preços administrados, que reúnem os produtos e serviços que são reajustados por contratos e por fórmulas dolarizadas, não sofrem a influência da lei da oferta e da procura (que determina que, quando há baixa demanda, os preços retrocedem). Esses preços devem exercer uma pressão maior sobre a inflação em 2003. A telefonia, por exemplo, pelas contas do BBV Banco, deve subir 11,5%, enquanto a energia elétrica, 15,2%.
É uma estimativa até otimista se comparada com a do Banco Central, que é de um reajuste de 20,7% no próximo ano. A explicação para essa alta está na fórmula da revisão anual das tarifas, que são reajustadas pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) acumulado nos 12 meses anteriores a cada data de aumento. As variações dos preços no atacado respondem por 60% do índice.
No atacado, a influência da valorização do dólar é mais direta. O IGP-M já subiu este ano (até agosto) 7,95%, enquanto o IPCA, 4,85%. Na energia, há uma parcela cotada totalmente em dólar: os chamados custos não-gerenciáveis, a energia comprada de Itaipu e da Argentina.
As projeções dos bancos para os preços administrados, que reúnem também gasolina, ônibus e gás de cozinha, vão de 8% a 10% no ano que vem. Mesmo os preços livres, nos quais o governo pode exercer mais pressão (desaquecendo a economia com juros altos) podem subir mais em 2003. A economia praticamente estagnada (o Produto Interno Bruto subiu apenas 0,14% no primeiro semestre), o desemprego em alta e a renda do trabalhador em queda frearam o repasse da desvalorização do real para os preços livres. Os consumidores fogem das compras, impedindo reajustes.
Mas uma análise do BBV Banco mostra que esse cenário será diferente a partir de 2003. O repasse da alta do dólar para os preços, que tem ficado em torno de 15%, pode subir e se tornar mais prolongado, diante de um cenário de recuperação da economia que o banco começou a detectar no mercado.
Sinais de recuperação
Segundo o economista Luís Afonso Lima, o índice de confiança do consumidor está no seu melhor nível desde março de 1999, a ocupação vem crescendo mesmo com o desemprego em alta, e a massa salarial real, nas contas do economista, está 4,8% maior, considerando as variações mensais anteriores. Apesar de estar longe de alcançar os níveis de 2001:
? Essa recuperação, que deve começar no início do ano, pode abrir espaço para mais aumentos. Não bateu ainda na indústria, porque há muito estoque acumulado. Há também no mercado a opinião de que o Banco Central está afrouxando o controle da inflação. Essa percepção pode tornar os empresários menos voltados para ganhos de produtividade e para substituir importações.
A recuperação econômica, na opinião de Levy, do Ipea, existe, mas não a ponto de aumentar muito a inflação no ano que vem. A projeção do instituto se mantém em 4,6%, praticamente igual à do BC, de 4,5%.
Para o BBV, o IPCA de 2003 será de 6%, se o dólar ficar nos R$ 3,10. Com o dólar a R$ 4,50, a inflação vai para 9,2%, com os preços administrados subindo para 16,6% e os livres, 5,9%.
Na opinião de Eduardo Moreira, do Opportunity Asset Management, que aposta numa inflação de 6,9% em 2003, o discurso de todos os candidatos à Presidência é desenvolvimentista, pressupondo mais tolerância com a inflação e queda no juro real.
Para a gasolina, poucos arriscam projeções, devido à falta de clareza nas regras para os reajustes. No entanto, Wilson Ramião, do Lloyds TSB, crê ser inevitável uma alta da gasolina logo após as eleições.