Analistas econômicos vêem com preocupação a desvalorização do dólar sobre o real. ?A médio prazo, o País pode pagar um preço alto, principalmente o setor produtivo?, apontou o chefe do departamento de Economia da UniFae, Gilmar Lourenço. Segundo ele, depois de baixar da ?marca psicológica? de R$ 2,00, na terça-feira, o dólar deve continuar caindo. ?Agora que ?furou? o chão, viram que o abismo é grande?, comentou, acrescentando que, no limite, a desvalorização pode levar ao desemprego. É que muitas empresas podem não suportar as conseqüências do real forte.

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 Para o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR, mantida a atual taxa de juros, o dólar vai continuar caindo. ?Até recentemente a banda mínima era de R$ 2,00. Agora, o mercado financeiro já fala que o novo patamar do dólar pode chegar a R$ 1,80?, comentou Cordeiro.

Gilmar Lourenço, da UniFae, concorda. Segundo ele, o dólar continuará deslizando para baixo caso o governo federal não tome uma entre três medidas: reduza drasticamente a taxa básica de juros, diminua o custo tributário e fiscal e controle o fluxo de capital que entra no País. ?Não acredito que isso aconteça?, declarou. Para o economista, o governo federal deveria dizer qual reforma tributária pretende fazer. ?É preciso reduzir o custo tributário para que as empresas brasileiras fiquem mais competitivas. Além disso, o governo poderia controlar o fluxo de capitais, como faz hoje a China, criando regras para entrada e saída de capital, estabelecendo prazo mínimo de permanência e elegendo áreas prioritárias para receber este capital?, explicou.

Lourenço lembrou que a desvalorização do dólar é um fenômeno que vem ocorrendo no mundo todo, principalmente em função do aumento da oferta da moeda no mercado internacional. Mas no Brasil o movimento ocorreu de forma mais acentuada.

Setores

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Entre os setores que vêm acumulando prejuízos por conta da desvalorização do dólar estão aqueles intensivos em mão-de-obra, que exportam e atendem o mercado interno – caso da indústria de calçados, têxtil, madeira. Empresas que apostaram num dólar maior e que investiram em programas de substituição de importações também estão perdendo.

Por outro lado, ganham as indústrias que estão investindo em modernização – através da aquisição de máquinas e equipamentos importados -, quem tem dívidas em dólares, além de setores exportadores que têm vantagens comparativas – caso de commodities como café, suco de laranja, aço, minério de ferro.

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A população também se beneficia da desvalorização da moeda estrangeira com a queda na inflação. ?Há uma série de bens na economia que sofrem influência do dólar. Com o dólar mais baixo, o nível de inflação também cai?, apontou o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR. Além disso, a população passa a ter maior acesso a produtos importados e o turismo internacional fica mais barato. 

Melhor avaliação virá quando País crescer 5%

Brasília (AE) – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem que não vai demorar muito para o Brasil receber o grau de investimento, ao avaliar a melhora da nota de crédito do País concedida pela agência de classificação de risco Standard and Poor?s (S&P). Segundo ele, isso vai acontecer quando a economia estiver crescendo à taxa de 5% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB).

Ele concedeu entrevista ontem no auditório do Ministério da Fazenda, acompanhado de toda a equipe do Tesouro Nacional, responsável pela administração da dívida pública. ?Venho comemorar a melhora do risco-Brasil. O risco continua caindo?, afirmou ele ao entrar no auditório. O ministro acrescentou que para o crédito doméstico o Brasil já é grau de investimento (nível no qual só são colocados emissores de dívida com baixa probabilidade de dar calote).

Segundo ele, a redução no risco-Brasil é resultado do trabalho de melhoria dos fundamentos econômicos e de administração da dívida. ?Confirma (a melhoria da nota) que os fundamentos estão cada vez mais sólidos?, afirmou. Para o ministro, ?isso se traduz em taxas de juros menores para a rolagem da dívida externa e para as empresas?. Ele destacou ainda que ?agora é o País que está crescendo a taxas expressivas a mais de quatro por cento?.

Importação

Mantega afastou a possibilidade de adoção de um choque de redução geral da alíquota do Imposto de Importação. Esse choque foi sugerido pelo ex-ministro Delfim Netto e pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. ?Não há necessidade de choques de importação, não gosto de choques?. Ele disse que prefere a adoção de medidas ?sem surpresas? e que as importações já estão crescendo ?de forma extraordinária?.

Na avaliação do ministro, a economia brasileira vive, na prática, um choque de importações já que o dólar barato permite a compra no exterior de produtos de menor preço, o que reduz os preços também no mercado interno.

Ele afirmou que esse processo, que já está acontecendo, funciona como uma redução de alíquota. ?É chover no molhado falar em choque de importação. Isso já está acontecendo?, afirmou.