A primeira leitura de analistas nos Estados Unidos sobre as novas regras da indústria bancária global é de que elas podem não ser tão eficazes para evitar uma nova crise no setor e podem desestimular o ainda acanhado mercado de crédito. “Provavelmente podem ser bom no longo prazo, mas me preocupo que no curto prazo as novas regras podem desencorajar os empréstimos bancários, que já estão fracos”, disse o economista-chefe da corretora Jefferies & Co., Ward McCarthy. As novas regras foram definidas hoje em Basileia, na Suíça, pelos presidentes de bancos centrais e autoridades reguladoras de 27 países.
A ideia é forçar os bancos a aumentar suas reservas de capital, para que eles estejam mais protegidos contra novas crises globais. A mais recente foi desencadeada pela falência do banco norte-americano Lehman Brothers, no fim de 2008. Pelas novas regras, os bancos terão que aumentar de 2% para 7% o total de reservas de proteção contra uma futura crise. As instituições também terão que criar uma proteção adicional, chamada “colchão de proteção”, de 2,5%, formada por ativos comuns. A exigência do chamado Tier 1 – formado por lucros e ações retidas – foi elevado de 2% para 4,5%. O valor total de Tier 1 foi determinado em 6%, ante os 4% atuais.
A implementação deverá ser gradual, a partir de janeiro de 2013. Entre janeiro de 2013 e janeiro de 2015, os bancos precisarão implementar a parte referente às reservas de capital. O colchão de conservação de capital deverá ser implementado entre janeiro de 2016 e janeiro de 2019.
O especialista independente em bancos Bert Ely é incrédulo. Ele acredita que, mesmo com as novas regras, os bancos darão um jeito de driblar as exigências. “Estou altamente cético em relação à eficácia. Duvido que as novas regras sejam implementadas por completo e creio que elas pode plantar as sementes para uma nova crise, pois certamente teremos advogados e engenheiros financeiros tentando criar novos produtos financeiros e estruturas para escapar do acordo de Basileia 3”, afirmou.
O acordo deverá ser ratificado no próximo encontro de cúpula do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) em novembro, em Seul, na Coreia do Sul. Depois disso, cada um dos 27 países participantes das discussões em Basileia, na Suíça, deverá adaptar as novas normas a seus respectivos sistemas financeiros.
Um exemplo de como a situação bancária global continua frágil surgiu na sexta-feira. A Alemanha anunciou que irá adicionar cerca de 40 bilhões de euros (US$ 50 bilhões) em garantias no Hypo Real Estate, um banco de Munique que pertence ao governo depois de ter sido socorrido durante a crise. Com os fundos adicionais, o total de garantias do banco subiu para 142 bilhões de euros.