A escolha do engenheiro civil Jerson Kelman para comandar a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) no lugar de Dilma Pena foi bem-recebida por analistas, que o consideram experiente e preparado. Consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, eles apontam que Kelman tem um perfil mais técnico e deve ter mais autonomia que sua antecessora, mas dizem não esperar novas medidas no curto prazo. O consenso é de que 2015 será um ano ainda mais difícil para a companhia e que a solução virá somente com maiores níveis de chuva.

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“É uma boa notícia. Acredito que Kelman terá mais independência e poder de barganha com o governador Geraldo Alckmin para aplicar as melhores soluções técnicas, independentemente de questões políticas”, avalia Ezequiel Fernández, do Scotiabank.

Ele ressalta, porém, que não há muito a se fazer além de “esperar pelas chuvas”, uma vez que já existem soluções de médio prazo sendo implementadas, como o Sistema São Lourenço e a ligação das Represas Jaguari e Atibainha. “O próprio Kelman já disse isso em entrevistas recentes”, lembra. “Para o curto prazo, me parece que a única escolha da Sabesp será decidir como o racionamento será aplicado e isso só deve ocorrer após o fim do período chuvoso.”

Ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), da Aneel e da Light, Kelman chegou a criticar algumas atitudes do governo Alckmin na disputa pela água do Paraíba, como o descumprimento de uma determinação para aumentar a liberação de água da Represa Jaguari, em agosto. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, em novembro, ele classificou o anúncio da transposição como um improviso, que não era a melhor escolha porque os reservatórios têm o mesmo regime de chuvas e atravessam as piores secas de suas histórias.

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Segundo Fernández, porém, Kelman não é crítico ao que vem sendo feito, e sim à falta de planejamento de longo prazo. “Ele afirmou que a ligação do Atibainha deveria ter sido planejada antes e de forma diferente, capturando maiores fluxos de água em um esforço combinado com o Rio de Janeiro”, aponta. “Mas acredito que ele concorda que, agora, o que a Sabesp tem em mãos para evitar que a crise se estenda após 2016 é o que já existe”, acrescenta. O Scotiabank manteve a recomendação “market perform” (em linha com o mercado) para as ações da Sabesp após o anúncio da troca de comando, com preço-alvo de R$ 21,00.

Para Alexandre Montes, analista da consultoria Lopes Filho, Kelman é um “ótimo nome” para enfrentar uma situação “dificílima”. “Não espero medidas imediatas, até porque será preciso tomar pé da situação, mas com certeza virão medidas”, diz, ressaltando que não haverá “milagre”. “Não há muito o que fazer nessa situação a não ser rezar por chuva. Qualquer coisa que se faça tem um prazo de maturação elevado e não salva 2015”, avalia.

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Já o analista de um grande banco norte-americano, que preferiu não ser identificado, avalia que Kelman não deve arriscar sua reputação adotando uma postura de conivência diante do governo e, com isso, deve ter mais autonomia que sua antecessora. “Dilma era um pouco ‘em linha’ demais com a atual administração estadual”, afirma. Segundo ele, porém, isso ocorreu principalmente devido às eleições de 2014.

Custos e Investimentos

Analistas consideram ainda que, para lidar com a crise hídrica no curto prazo, a Sabesp terá mais custos e precisará intensificar investimentos. Para Fernándes, do Scotiabank, o dilema da companhia no curto prazo pode envolver custos mais altos. “E esses custos serão bancados pelo consumidor”, diz.

Segundo ele, no longo prazo, mais investimentos serão positivos para a Sabesp. O plano de investimentos da Sabesp prevê capex de R$ 12,8 bilhões entre 2014 e 2018.

Segundo a assessoria de imprensa da Sabesp, o Conselho de Administração da companhia vai se reunir no próximo dia 29 para a confirmação de Kelman como presidente.

Há pouco, as ações da Sabesp tinham queda de 0,71%, ao passo que o Ibovespa caía 2,10%, a 47.494 pontos.